segunda-feira, 20 de março de 2017

Amor de alguns profissionais liberais

Amor de professor de Geografia


Era uma vez um professor de geografia que escreveu a seguinte carta para a namorada:

Meu amor,

A saudade que sinto de teu perfil suave como a serra! Mas não sei chorar. Minhas lágrimas são lençóis cativos nas camadas mais profundas de meu ser – e eu não posso, não choro, não sei chorar. Mesmo que essa alternância de gelo e degelo, longe de ti, venha fragmentando gravemente a rocha de meus nervos.

Penso em ti. Profundamente em ti. És de uma ternura transparente como a formação cristalina. És bela como uma floresta de cedros intactos. Doce como a luz do dia estendida sobre as dunas muito brancas. Alta e misteriosa como as agulhas esguias que existem da Islândia. Estas em todas minhas direções como as rosas-dos-ventos.

Mando-te uma montanha de beijos.

(Campos, Paulo Mendes. Revista Manchete, 8 de abril de 1972)

Amor de Contabilista


Prezada Senhorita

Tenho a honra de comunicar a V.Sª. que resolvi, de acordo com o que foi conversado com seu ilustre progenitor, o tabelião juramentado Francisco Guedes, estabelecido à Rua da Praia, n° 632, dar por encerrados nossos entendimentos de noivado. Como passei a ser o contabilista-chefe dos Armazéns Penalva, conceituada firma desta praça, não me restará, em face dos novos e pesados encargos, tempo útil para os deveres conjugais.

Outrossim, participo que vou continuar trabalhando no varejo da mancebia, como vinha fazendo desde que me formei em contabilidade em 17 de maio de 1932, em solenidade presidida pelo Exmo. Sr. Presidente do Estado e outras autoridades civis e militares, bem assim como representantes da Associação de Varejistas e da Sociedade Cultural e Recreativa José de Alencar.

Sem mais, creia-me de V.Sª, patrício e admirador.

(José Cândido de Carvalho,
In “Por que Lulu Bergatim não Atravessou o Rubicom”)


Carta de Amor de um Químico


Ouro Preto, zinco de agosto de 1978.

Querida Valência:

Sinto que estrôncio perdidamente apaixonado por ti. Ao deitar-me, quando descálcio meus sapatos, mercúrio no silício da noite, reflito e vejo que sinto sódio. Então, desesperadamente, chouro.

Sem ti, Valência, minha vida é um inferro. Ao pensar que tudo começou com um arsênio de mão, cloro de vergonha. Sabismuto bem que te amo, embora não o digas, sei que gostas de um tal de Hélio e também do Hidro-Eugênio. De antimônio posso assegurar-te que não sal nenhum érbio e que trabário para viver. Oxigênio cruel tu tens, Valência! Não permetais que eu cometa algo errádio.

Por que me fazer sofrer tanto assim, sabendo que tu és a luz que me alumina? Meu caso é cério, mas não ácido razão para um escândio social.

Eu soube que a Inês contou que te embromo com esse namouro. Manganês, deixa de onda e não acredita niquela disser, pois sabes que nunca agi de modo estanho contigo. Aliás, se não tiveres arranjado outro argôniomento, procura um Avogadro e me metais na cadeia. Lembra-te, porém, que não me sais do pensamento.

Abrácidos comovidros deste que muito te ama.

Oscar Bono.
  
(Autor desconhecido)

Declaração de Amor de um Engenheiro


Você é a metade? Ou você é o inteiro? O pedaço que falta? Ou o pedaço que completa? Nem Freud desvenda sua psicologia. Nem Newton pode calcular a sua reação. Nem Einstein descobre o sentido do seu movimento. Mas eu já sei. Eu calculei tudo. Cada pedaço e cada detalhe da sua constituição. Fiz sua mente em pedaços.

Estudei cada veia do seu coração. Das linhas de expressão do seu rosto. Aos contornos das suas mãos. Do seu inglês disfarçado. E do seu italiano bom. Somos iguais. Ou somos os opostos inversos que se completam e se repelem como cations e nêutrons?

Formando polos magnéticos que giram ao redor de si? Gerando correntes elétricas que se conectam a outras partes dos mesmos locais? Não faz sentido. Eu sei. Mas segundo o estudo da física, você é o que falta para gerar a combustão da minha explosão. Ou a incógnita da minha expressão matemática? Minha função?

Você é a reação de apoio no meu momento máximo. Mas também é o resultado da cortante do meu coração. Enfim, não se explica esta relação. Quem tanto me integrou agora me deriva. Me deixa a limites desconhecidos. Confundida. Não sei lidar com essa compressão no peito. Com essa tensão aqui dentro. Sinto que sem você cisalha o meu coração.

(Autor Desconhecido)

Carta de um advogado terminando o namoro

(face aos acontecimentos do relacionamento)


Prezada Otaviana de Albuquerque Pereira Lima da Silva e Souza, face aos acontecimentos de nosso relacionamento, venho por meio desta, na qualidade de homem que sou... apesar de V. Sª não me deixar demonstrar, uma vez que não me foi permitido devassar vossa lascívia, retratar-me formalmente, de todos os termos até então empregados à sua pessoa, o que faço com sucedâneo no que segue:

A) Da inicial má-fé de vossa senhoria:

1. Considerando que nos conhecemos na balada e que nem precisei perguntar seu nome direito, para logo chegar te beijando;

1.2. Considerando seu olhar de tarada enquanto dançava na pista esperando eu me aproximar;

1.3. Considerando que com os beijos nervosos que trocamos naquela noite, V.Sª me induziu a crer que logo estaríamos explorando nossos corpos, em incessante e incansável atividade sexual. Passei então, a me encontrar com Vossa Senhoria.

B) Dos prejuízos experimentados:

2. Considerando que fomos ao cinema e fui eu quem paguei as entradas, sem se falar no jantar após o filme.

2. 2. Considerando que já levei Vossa Senhoria em boates das mais badaladas e aras, sendo certo que fui eu, de igual sorte, quem bancou os gastos.

2. 3. Considerando que até a praia já fomos juntos, sem que Vossa Senhoria gastasse um centavo sequer, eis que todos os gastos eram por mim experimentados, e que Vossa Senhoria não quis nem colocar biquíni alegando que estava ventando muito.

C) Das razões de ser do presente:

3.1. Considerando ainda que até a presente data, após o longínquo prazo de duas semanas, Vossa Senhoria não me deixou tocar, sequer na sua panturrilha.

3.2. Considerando que Vossa Senhoria ainda não me deixa encostar a mão nem na sua cintura com a alegaçãozinha barata de que sente cócegas.

Decido sobre nosso relacionamento o seguinte:

4.1. Vá até a mulher de vida airada que também é sua progenitora, pois eu não sou mais um ser humano do sexo masculino que usa calças curtas e a atividade sexual não é para mim, um lazer, mas sim uma necessidade premente.

4.2. Não me venha com “colóquios flácidos para acalentar bovinos” de que pensava que eu era diferente.

4.3. Saiba que vou te processar por me iludir aparentando ser a mulher dos meus sonhos, e, na verdade, só me fez perder tempo, dinheiro e jogar elogios fora, além de me abalar emocionalmente.

Sinceramente, sem mais para o momento, fique com o meu cordial “vá tomar no meio do olho do orifício rugoso localizado na região infero-lombar de sua anatomia” que esse relacionamento já inflou o volume da minha bolsa escrotal!

Dou assim por encerrado o nosso relacionamento, nada mais subsistindo entre nós, salvo o dever de indenização pelos prejuízos causados.

Sem mais para o momento!

(Autor Desconhecido)

Um conto de metalinguagem de um professor de Português

(E põe meta linguagem nisso...)

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural e com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era novinha, coisa mais linda de diminutivo, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingênua, monossilábica, um pouco átona, ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos.

O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos num lugar sem ninguém para ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado... e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador para só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, (já estavam bem entre parênteses), quando o elevador recomeçou a se movimentar: só que ao invés de descer, subiu e parou justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal e entrou com ela em seu aposto.

Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, em gerúndio, sentados, ó leitor, num vocativo, entre vírgulas, quando ele começou, outra vez, redundantemente, a se insinuar. Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo. Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto. Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocábulos, e, ele, um pronome pessoal, sentido que seu ditongo ia ficando que vez mais crescente, se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estar-se-iam até agora nessa mesóclise, se ela não confessasse que ainda era vírgula: ele não perdeu o ritmo e sugeriu um longo ditongo oral, e, quem sabe, uma ou outra soletrada em seu apóstrofo.

É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para um comum de dois gêneros. Ela totalmente voz passiva. Entre beijos, carícias e outros substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo seu predicativo do objeto, ia tomando conta dela por um longo período composto. Estavam nessa posição de primeiras e segundas pessoas do singular; ela era um perfeito agente da passiva, e ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen singular. Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício reclamando das altas interjeições que se ouviam por todo o prédio, dando conjunções e adjetivos fazendo com que os dois se encolhessem cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar começou a ficar anômalo, diminuindo seus advérbios e declarou o seu particípio na história. Os dois se olharam e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício, pois além do verbo auxiliar, havia, acima dele, o período absoluto que mandava em toda a oração. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal, apesar de ser um termo acessório, dava para quebrar o verso.

Oh que loucura! Minha gente vocativa, aquilo não era nenhum demonstrativo do seu caráter, mas um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois com aquela maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, segurando numa mão o travessão e, na outra, os dois pontos, propondo claramente uma mesóclise-a-trois, que galicismo do mau caráter!

Só que as condições eram estas, enquanto um abusava do ditongo oral; o outro penetrava no gerúndio, culminado com um complemento verbal no artigo feminino. O substantivo, vendo esta oração intercalada, reagiu, pois poderia se transformar num artigo indefinido com um til na cabeça, ou mesmo a cabeça entre duas “aspas”. Achando que o período estava por demais composto e, com mais uma oração coordenada sindética aditiva, resolveu pôr um ponto final na história. Agarrou o verbo auxiliar pelos dois pontos e, com ao auxílio de um conetivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à Língua Portuguesa. O artigo feminino, que estava na voz passiva, pronta para receber a conjunção coordenativa conclusiva, relaxou.

Logo depois, os dois, unidos num aposto, chegaram, finalmente, apesar deste adjunto adverbial deslocado, juntos, exaustos e felizes até o final do texto, pondo um ponto final na história.


(Autor Desconhecido)

Cantadas de vários profissionais liberais


O Engenheiro Aeroespacial diria: → Você significa o mundo para mim. (ou): → Você é a névoa que ocupa toda a minha visão.

Engenheiro Eletricista diria: → Você é a carga das minhas partículas.

O Físico diria: → Você magnetiza meus polos…

O Engenheiro de Automação falaria: → Você me deixa ligado.

Quem é da engenharia química pode falar: → Meu becker borbulha por você.

Um Engenheiro de Fundição talvez se identifique com essa: → Você derrete meu núcleo sólido interno.

Olha a engenharia química de novo aí: → Nós, minha querida, temos química!



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