“Batuque” - Johann
Moritz Rugendas, Pintor alemão (1802-1858)
Sambar, nesse caso, ainda não era um
verbo associado a nenhuma espécie de gênero musical. Continuavam sendo apenas
uma maneira de fazer festa e dançar. Para alguns, a palavra seria originária da
língua do povo quioco, de Angola – o verbo samba,
que em português teria sentido de “brincar”, “cabriolar”, “divertir-se como
cabrito”. No idioma quicongo, também angolano, existiria uma palavra similar (sàmba), para nomear um tipo de
coreografia local, na qual os dançarinos bateriam o peito um contra o outro. Em
quibundo, semba, com o significado de
“separar”, “rejeitar”, definiria o movimento físico das umbigadas ou as mesuras
típicas de danças africanas. Há quem defenda ser “Samba”, com maiúscula, na procedência
mais remota, uma divindade angolana protetora dos caçadores. Entre outras
hipóteses menos cotadas, existe quem busque um suposto parentesco ancestral com
zambra, bailado ibérico de origem
moura, ou mesmo com çamba, um tipo de
dança ameríndia.
Polêmicas etimológicas e discussões bizantinas à parte, costuma ser
consenso que a palavra “samba” teria sido grafada em letras de fôrma pela
primeira vez em 1838, no jornal satírico pernambucano O Carapuceiro, no corpo de um artigo escrito pelo padre Miguel do
Sacramento Lopes Gama, professor de retórica do seminário de Olinda. No texto,
a propósito de tratar dos conceitos do bom e mau gosto, Lopes Gama fazia
referência em tom pejorativo a um certo “samba d´almocreves”, batuque
considerado grotesco pelo autor quando, por exemplo, comparado às óperas do
compositor italiano Gioachino Rossini. Os almocreves, vale dizer, eram os
trabalhadores encarregados de conduzir burros de carga, o que associaria o
samba a uma classe social inculta e abrutalhada.
Ao se escarafunchar os jornais de época, contudo, constata-se que o
termo fora usado pela imprensa oito anos antes. Na edição de 4 de agosto de
1830, sob o pseudônimo de “O Imperialista Constitucional”, um colaborador do Diário de Pernambuco já o citara, também
com sentido negativo. Ao comentar a decisão do governador das armas de
transferir para o interior da província alguns oficiais acusados de facilitar
fugas de prisioneiros do forte das Cinco Pontas, em Recife, o autor do texto
protestara: “A ociosidade disporá aos mais bem conduzidos a se entreterem nas
pescarias de currais e trepações de coqueiros, em cujos passatempos serão
recebidos com agrado a viola e o samba”.
(Do livro “Uma
História do Samba – as origens”, de Lira Neto)
Batuque: Johann Moritz Rugendas
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