Fraga
Eu, Estados Unidos do Brasil, vulgo
Pindorama, 517 anos, residente na América do Sul, venho a público declarar o
que segue.
Tendo em vista a situação precária em
que me encontro (com doenças endêmicas e epidêmicas, falido e combalido,
inseguro e desgovernado) resolvi antecipar meu testamento. Vai que eu não
resista numa emergência do SUS, ou seja, novamente golpeado nas eleições de
2018.
Do que resta do meu pobre e
vilipendiado patrimônio, determino assim a partilha aos seguintes
destinatários:
Aos sem-terra, deixo todos os
latifúndios improdutivos que o Incra há décadas mantém intocáveis. Além dessas
grandes áreas, deixo também glebas, acres, hectares, campinhos e quaisquer
terrenos baldios, sejam nas áreas urbanas ou na zona rural. Será, enfim, uma
reforma agrária, ainda que póstuma.
Aos sem-teto, deixo como abrigo
definitivo todo o conjunto dos prédios dos ministérios em Brasília, quase sem
serventia atualmente. Também o Senado e a Câmara, todas as Assembleias
Legislativas estaduais, idem as câmaras municipais, ambientes pouco
frequentados e muito mal aproveitados.
Aos povos indígenas, deixo toda a
Amazônia e arredores, mais as minhas matas, bosques e matagais, meus rios e
cascatas, onde a Funai não mais terá gerência, ingerências, nem a incompetência
das demarcações.
Aos sem transporte, deixo minha
desconjuntada malha ferroviária, para que seja recuperada e usufruída pela
população sem carro.
Além dos trens, transfiro aos pedestres todas as concessões do transporte público, para pôr fim à interminável e injusta exploração do empresariado abusado.
Aos alunos, estudantes e
professores, deixo toda a rede de escolas públicas (municipais, estaduais,
federais) para começarem uma experiência de autogestão, inclusive com a adoção
do modelo escola com partido. As universidades federais e estaduais também
passam para a livre gestão do corpo docente e discente.
Aos desfavorecidos deixo a
liberdade de aproveitar meus restos mortais, como matérias primas e recursos
naturais, e assim produzir riquezas para todos, tal como antes das capitanias
hereditárias. Que seja o fim desse maldito dna.
Para a classe política não deixo
nada, pois já me tirou tudo: a saúde, a educação, a segurança, até a esperança.
Essa é a
minha vontade, com a qual firmo este documento.
(Se eu vier a faltar,
cumpra-se.)
(Texto do jornal
Extra Classe-ORG-BR, março de 2017)
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