O menino que passou três anos num palácio
Quando ainda era criança, Michelangelo
Buonarroti pensava mais em desenhar do que em qualquer outra coisa. Seu pai
mandou-o para a escola, mas Michelangelo não gostava de livros e, por isso, não
quis estudar. Durante a aula, frequentemente, fazia desenhos nos livros.
– Quero aprender
a desenhar – dizia.
Seu pai se
zangava com isto.
‒ Não quero que você seja artista,
meu filho – respondia. ‒ Os artistas ganham pouco dinheiro e eu não quero que
você se torne um deles.
Mas o pobre Michelangelo não ambicionava
ter muito dinheiro. Queria apenas aprender a desenhar bem e não podia tirar
esta ideia da cabeça.
‒ Prefiro
fazer isto a qualquer outra coisa – disse ao pai.
Michelangelo tinha um amigo que
conhecia um grande artista. Muitas vezes este artista permitia que os dois
meninos o olhassem pintar. Isto deixava Michelangelo mais ansioso do que nunca.
Um dia o
grande artista procurou o pai de Michelangelo e disse:
‒ Eu lhe pagarei
pelo trabalho do menino se o senhor deixá-lo estudar comigo.
O pai
concordou e, deste modo, Michelangelo estudou com o artista durante três anos.
Nessa ocasião, vivia aí um príncipe
que adorava estátuas bonitas. Ele as apreciava tanto que mandou emissários a
todas as partes do mundo comprar as melhores que houvesse. Esse príncipe tinha
um bom coração, e pensou que devia proporcionar aos outros o raro ensejo de
poder apreciar uma bela coleção de obras de arte.
A todos os
professores de desenho da cidade mandou o seguinte aviso:
– Escolha seus dois melhores alunos e
mande-os estudar minhas estátuas. Um professor de minha confiança os ajudará.
Todos os alunos de desenho na cidade
de Florença queriam ver as estátuas do príncipe; mas, apenas dois poderiam ser
escolhidos, de cada classe.
Certo professor tinha dois alunos
inteligentes. Eram grandes amigos, e ambos desenhavam muito bem. Não foi
difícil para esse professor proceder à seleção. Michelangelo e seu amigo foram
os escolhidos.
Vocês podem ter a certeza que naquele
dia havia muitos meninos contentes em Florença. E Michelangelo
era o mais alegre de todos. Ver obras de arte e poder estudá-las, eram coisas
que sempre o alegravam.
Durante a visita ao príncipe, Michelangelo
primeiramente passou o tempo desenhando. Mas um dia viu um menino modelando em argila. Michelangelo
achou isso mais interessante do que desenhar e, pouco depois, estava também
trabalhando em argila.
Certo dia, o
príncipe chegou e viu Michelangelo fazendo uma cabeça de um fauno.
‒ Está muito boa – disse o príncipe.
‒ Mas você cometeu um engano. O fauno devia ter falta de um dente.
Michelangelo ficou calado. O príncipe
retirou-se e, quando voltou, duas horas depois, o fauno tinha um dente de
menos.
Michelangelo
alterara a cabeça para torná-la como devia ser.
O príncipe
ficou muito satisfeito.
‒ Vejo que você gosta de aprender –
disse. – Venha morar comigo no meu palácio. Contratarei outro professor e você
estudará com meus três filhos.
Outra vez Michelangelo era um menino
feliz, e por três anos trabalhou no palácio, tendo príncipes por amigos. Agora
passava a maior parte do tempo esculpindo em mármore, e suas obras tornavam-se
cada vez mais bonitas. Não era sem razão que muita gente dizia:
‒ Algum dia Michelangelo
ainda será um grande escultor!
Michelangelo já se encontrava no
palácio, havia três anos, quando o generoso príncipe morreu. Michelangelo perdeu
um bom amigo, mas não perdeu o amor ao seu trabalho. Continuou estudando
sempre, até que se tornou um dos maiores escultores que já viveram.
O povo de Florença, Itália, tinha um
enorme bloco de mármore. Um homem tentara esculpir nele um gigante, mas
fracassara. O povo pediu a Michelangelo que fizesse qualquer coisa no bloco.
– Verei o
que posso fazer – prometeu Michelangelo.
E durante dezoito meses entregou-se
com ardor ao trabalho, esculpindo. Quando terminou, notava-se logo que um
grande escultor fizera o trabalho. O enorme bloco estava transformado num
rapaz, preparado para enfrentar um gigante. Era David, o pastor. Foram precisos
quarenta homens para transportar a colossal, que pesava nove toneladas!
– Devemos pô-la no portão da nossa
cidade – disse alguém. – É belíssima e ajudará a manter vigilância sobre nosso
povo!
O povo de Florença assim o fez, e,
por muitos anos, o pastor David contemplou serenamente aqueles que transpunham
os portões da cidade.
Em outra ocasião Michelangelo esculpiu
a estátua de Moisés, abaixo, que se encontra em Roma. Quando se chega
diante dela, a gente tem a impressão de que ela vai falar, tal a perfeição das
suas formas.
Michelangelo esculpiu muitas outras
estátuas. Uma é chamada “O Pensador”, abaixo, e está em Florença, Itália. Outra,
é chamada “Dia e Noite”, e uma outra “Crepúsculo e Aurora”, ambas abaixo.
O pensador
Dia e Noite
Crepúsculo e Aurora
Michelangelo nem sempre foi
escultor. De vez em quando ele se dedicava à pintura, tendo pintado belos
quadros.
Existe em Roma uma grande igreja
chamada São Pedro, no Vaticano. Essa igreja é dividida em várias partes, uma
das quais é chamada de Capela Sistina. No teto dessa capela, há muitas pinturas,
todas referentes a episódios bíblicos. Todas as pinturas foram realizadas por Michelangelo.
Se vocês viram alguém pintar o teto
de uma casa, devem ter notado que isso é difícil. É muito mais fácil pintar
paredes. Somente um grande artista poderia ter pintado aqueles quadros tão
belos.
Se algum dia forem a Roma ou
Florença, não deixem de ver as maravilhosas obras de arte de Michelangelo.
O teto da Capela
Sistina, de “uma imaginação artística sem precedentes”.
(Do Almanaque do O
Globo Juvenil de 1943)
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