Aldir
Blanc Mendes (Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1946 − Rio de
Janeiro, 4 de maio de 2020), foi um compositor
e cronista brasileiro. Médico
formado pela Escola de Medicina e
Cirurgia do Rio de Janeiro,hoje parte da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio)
com especialização em psiquiatria, abandonou a profissão para se
tornar compositor e um dos grandes letristas da história da música brasileira.
*****
Aldir
Blanc sempre foi pra mim uma referência como letrista, e depois como cronista.
Aliás, muitas de suas letras já eram crônicas, que traziam pequenas histórias e
personagens. Passei a prestar maior atenção no letrista a partir de sua
parceria com João Bosco, que eu descobri maravilhado ainda adolescente. Depois
vim saber que aquele Aldir que eu pensava estar descobrindo naquele período, eu
já conhecia e nem sabia. “Amigo É Pra Essas Coisas”, “Nada Sei de Eterno”, “De
Esquina Em Esquina”, músicas que eu conhecia dos antigos festivais
universitários da TV Tupi, eram letras suas, sem que eu soubesse. Depois, anos
mais tarde, conheci o Aldir cronista, através de sua coluna no jornal O
Pasquim, crônicas que depois foram reunidas em dois livros (“Rua dos Artistas e
Arredores” e “Porta de Tinturaria”). Abaixo selecionei algumas frases curtas,
verdadeiras pérolas de uma prosa poética, carregada de sensibilidade e um
refinado humor:
“O
amor tanto se mete a edredon que acaba virando colcha de retalhos.”
“Às
vezes, eu me provo tão velho quanto esses biscoitinhos que a gente serve pra
visita inesperada. E ainda mais falso que o sorriso de 'que surpresa!'”
“Todo
escândalo de adultério deve comportar uma trégua pro cafezinho.”
“Na
inauguração do novo Distrito Policial coube ao Secretário de Segurança dar o
pontapé inicial.”
“A
casa era exatamente o que eu esperava. Um jardim, aquelas garrafinhas pra
beija-flor, o maior sossego. Respirei fundo e fiquei repetindo pra mim mesmo:
'Puxa! É impossível que alguém se sinta infeliz num lugar assim'. Eu tava me
sentindo muito infeliz.”
“Nos
jogos do amor eu sempre perco porque sou amador.”
“...
na varanda de uma casa em Paquetá, a moça sorri:
‒
Mas nós nos conhecemos tão pouco, amor!
E
dentro da casa, a mãe da moça resmunga:
‒
Eu conheço bem esse filho-da-puta.”
“...
em Vila Isabel ,
meu avô Aguiar me explica:
‒
Nos fins de domingo sempre se pensa na morte. Chato é que às vezes a gente
morre mesmo.”
“...passa
aos gritos o Carro de Bombeiros, girando a pupila vermelha na grande órbita da
noite, insano como os olhos verdadeiros solitários, solidário como os
verdadeiros insanos. Um homem fala sozinho:
‒
Em algum lugar há fogo, Zelda. Meu coração inveja.”
“...
penso nos teus cabelos e naquelas frases todas, não sei por que estou dizendo
tudo isso. Por favor, não ria. Eu poderia escrever um livro sobre nós dois,
enquanto, com o piano de Teddy Wilson, Billie Holiday me ensina que depois de
tudo isso:
‒
I'll never be the same.”
(Do Blog Tarati Taraguá)
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