Entre os humoristas, um dos que mais
escreveram para as revistas foi Bastos Tigre: entre os anos de 1906 e 1935
escreveu cerca de dezenove peças para teatro de revista, sendo que todas foram
encenadas. Utilizando-se dos mesmos processos paródicos, mas de uma forma menos
presa ao formato do soneto, Bastos Tigre mostrou grande habilidade em compor
versos humorísticos curtos em tom de diálogo, muito mais adequado à
musicalidade do teatro de revista. Não se caracterizava pela comicidade obscena
ou mais apimentada, como no caso de algumas revistas da época, mas, não raro, veiculavam
uma comicidade burlesca, não isenta de alguma malícia, como no exemplo da
revista De pernas pro ar, de 1916, na
qual uma costureira ingênua – interpretada pela atriz Natalina Serra – cai na
lábia de seu namorado, um chofer chamado Pedrinho, e canta versos cujo
estribilho – “Pedrinho, não faça isso!” – provocava, segundo testemunhos da
época, grande hilaridade:
Quando passa
lá em casa,
Eu tinha as
faces em brasa,
Ao vê-lo no
auto vermelho.
Mamãe
conselhos me dava...
Quem ama como
eu amava
Quer saber de
conselho?
(...)
Foram-se os
dias passando
E tantos
beijos foi dando,
Que eu nem
reparava nisso...
Uma vez
beijou-me na boca!
Fiquei tonta,
fiquei louca:
‒ Pedrinho,
não faça isso!
Uma vez, por
meu castigo,
Saiu a
passear comigo,
Ao terminar o
serviço.
‒ Vou tocar
para a Tijuca!
Meu Deus, que
ideia maluca!
‒ Pedrinho,
não faça isso!
Fomos. O auto
em disparada
Devorava a
linda estrada!
De repente –
zás – um enguiço.
Quem passasse
ali por perto
Me ouvia
dizer por certo:
‒ Pedrinho,
não faça isso!
E na sequência, de resto previsível,
Pedrinho resolve mudar de profissão, de motorista vira rapidamente embarcadiço,
abandonando a namorada que, inconsolável, canta:
E foi-se.
Foi-se para o Norte!
Hoje confesso
que é a morte
O único bem
que cobiço.
Talvez que
outra, lá fora,
Lhe esteja
dizendo agora:
‒ Pedrinho,
não faça isso!
(Do livro “Raízes do
Riso”, de Elias Thomé Saliba,
Companhia das Letras)
Companhia das Letras)
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