sexta-feira, 30 de junho de 2017

Colcha de retalhos



Um grande comício realizava-se na praça Montevidéu, defronte à prefeitura de Porto Alegre. No início, o entusiasmo era enorme; porém, na medida em que os oradores iam se sucedendo, o público começou a demonstrar sinais de cansaço. Aparentemente, nada mais motivava os presentes. Um dos oradores preliminares, em voz comovida, resolveu queimar o último cartucho:
‒ ... porque somos todos filhos de Getúlio Vargas!
Ouviu-se, então, a voz clara de um gozador:
‒ Ih, pronto, já nos chamou de filhos da puta...

(Anedotário da Rua da Praia 1, Renato Maciel de Sá Junior)

Janela sobre as paredes

Escrito em um muro de Montevidéu: As virgens têm muitos Natais, mas nenhuma Noite Boa.

Em Buenos Aires: Estou com ome. Já comi o f.

Também em Buenos Aires: Ressuscitaremos, ainda que isso nos custe a vida!

Em Quito: Quando tínhamos todas as respostas, mudaram as perguntas.

No México: Salário mínimo para o presidente, para ver o que ele sente.

Em Lima: Não queremos sobreviver. Queremos viver.

Em Havana: Tudo é dançável.

No Rio de Janeiro: Quem tem medo de viver não nasce.

(As palavras andantes - Eduardo Galeano)

Camões

Causídico de fama no princípio do século, Pereira da Cunha notabilizou-se pela palavra apaixonada e eloquente.
Quando Júlio de Castilhos morreu, em Porto Alegre, em 24 de outubro de 1903, vários discursaram na hora do enterro. No momento em que o caixão descia à sepultura, Pereira da Cunha destacou-se do grupo e exclamou:
‒ Se houvesse um processo de cristalização da lágrima, o teu ataúde, Júlio, por certo não seria de madeira, nem o teu túmulo de granito!

(Do Anedotário da Rua da Praia 1, Renato Maciel de Sá Junior)

O candidato retardado

Palanque armado no bairro Pereiros. O comerciante “Chico do Peixe” chega com considerável atraso, ávido por discursar na condição de candidato a vereador em 1996, no município de Mossoró. Favorecido pela escassez de oradores no comício do candidato governista, engenheiro Valtércio Silveira, apoiado pelo prefeito Dix-huit Rosado, Chico é alertado de que também terá direito a discursar. Ufa! Ele já pensava que não teria vez. Abrindo a oratória, Chico do Peixe tenta justificar sua ausência até então, mas mistura semântica com psiquiatria:
‒ Olha, meus amigos, eu estou chegando “retardado”...

(Só rindo 2: A política do bom humor do palanque aos bastidores,
de Carlos Santos) 


Nenhum comentário:

Postar um comentário