Paixão Côrtes, 1947,
aos 20 anos, acendendo a 1ª Chama Crioula
Em uma espécie de desabafo, na
apresentação da obra “Tradicionalismo Gauchesco Nascer, Causas & Momento”,
na qual João Carlos Paixão Côrtes, o criador do tradicionalismo, do estudo e
pesquisa sobre folclore gaúcho relata como, junto com outros jovens, decidiu
que era hora de “preservar, desenvolver, proporcionar uma revitalização à
cultura rio-grandense”. E dar um basta ao hábito de se consumir “especialmente
as sobras militares de guerra que os norte-americanos procuravam nos meter
goela abaixo”. Era o pós-guerra, em 1947. Paixão Côrtes, um jovem nascido em
Santana do Livramento em 12 de julho de 1927 – portanto estará completando 90
anos neste 2017 – se juntou a outros como ele, vindos de pontos distantes
dentro do solo gaúcho, para complementar seus estudos na Capital, onde eram até
ridicularizados pelas bombachas, botas, ponchos e por sorver um mate!
“O culto à bandeira e ao hino
rio-grandense fora esquecido”, relata. Por isso, nesses dias de festas juninas,
às quais ele dedicou muitas obras, é importante lembrar o trabalho do
pesquisador sobre a importância da dança, da música e dos trajes na cultura
gaúcha. Nas pesquisas, sem gravadores, ele, Barbosa Lessa e Glaucus Saraiva,
tinham que ouvir os mais velhos e guardar a música “de cabeça” até ter como
reproduzir. Nas obras que escreveu – com recursos próprios, outras através do
Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, e algumas patrocinadas por empresas
sensíveis ao tema – o folclorista, compositor, agrônomo e zootecnista Paixão
Cortes aborda, entre outras, as festas de salão, dos galpões, manifestações
folclóricas de tropeiros, religiosas e as Congadas da etnia negra, de Osório,
do morro da Borússia.
Os mais jovens talvez nem saibam que
foi ele, com quatro cavalarianos, do chamado grupo dos “oito” do colégio Júlio
de Castilhos que, numa virada do dia 7 para o dia 8 de setembro de 1947,
embeberam um pouco de querosene e gasolina numa vassoura e “colheram” uma
centelha do Fogo Simbólico da Pátria, no Parque Farroupilha, e levaram até o
Julinho. Avivaram a chama de um lampião. Estava criada a Chama Crioula. A mesma
que, em todas as Semanas Farroupilhas, ilumina os candeeiros de prédios públicos
e de todos os mais de 4 mil CTGs do Brasil e mundo afora. Ele criou o 35, o
primeiro, em 1948. É tempo de comemorar Paixão, o gaúcho modelo à estátua do
Laçador, símbolo de Porto Alegre.
(Jurema Josefa –
jornalista, no Correio do Povo, junho de 2017)
Paixão Côrtes e Barbosa Lessa
A estátua do Laçador,
o governador Brizola e o escultor Caringi,
em 1958.
em 1958.
A estátua do Laçador
→ O Laçador foi criado em 1954
pelo artista Antônio Caringi que se espelhou no jovem tradicionalista Paixão Côrtes.
→ O Laçador é um monumento que representa o gaúcho tradicionalista pilchado com o laço na mão, bota, bombacha, lenço, camisa e a guaiaca.
→ Os moradores de Porto Alegre participaram de uma campanha com eleição dentro do projeto “Porto Amado'” em busca de um símbolo que representasse a cidade de Porto Alegre. Essa votação foi feita pela RBS e pelo Banco Itaú. Teve muitas urnas espalhadas nas agências do Banco Itaú, postos, jornais Zero Hora, também nos shoppings, nas feiras livres e até mesmo nas escolas.
→ Pela Lei Suplementar nº 279, de 17 de agosto de
→ Entretanto, a estátua ficava em
um lugar de destaque onde todos que entrassem na cidade de Porto Alegre
poderiam vê-la.
→ Em 2007, após 48 anos, foi
transferido do seu local antigo o Largo do Bombeiro para o Sítio Laçador para
que pudessem construir o viaduto Leonel Brizola.
→ Muitos moradores reclamam do lugar onde está o Laçador agora por que eles dizem que o Laçador era o ponto de referência de Porto Alegre porque qualquer lugar que você quisesse ir você sempre dizia “dobra a direito do Laçador”, “passa pelo o Laçador”, “dobra a esquerda no Laçador”. Mas agora ele está escondido porque as pessoas não dizem mais o mesmo sobre o Laçador, porque ele não está mais tão à vista e isso deixou os moradores de Porto Alegre decepcionados.
Bibliografia sobre a escultura
“O Laçador - História de um Símbolo”, Porto Alegre: 35 CTG, 1994,
por Paixão Côrtes.
Aos 91 anos. Morre Paixão Côrtes
Felipe Samuel
Morreu ontem (27 de agosto de
2018), aos 91 anos, o compositor, folclorista, radialista e pesquisador da
cultura gaúcha João Carlos D′Ávila Paixão Côrtes. Ele estava internado desde 18
de julho no Hospital Ernesto Dornelles, onde passou por uma cirurgia após
sofrer uma queda e fraturar o fêmur. Conforme familiares, o folclorista faleceu
às 16h em decorrência da saúde fragilizada e de complicações em função da
idade.
(...)
Natural de Santana do Livramento,
o engenheiro agrônomo por formação foi dedicado pesquisador da cultura, hábitos
e costumes populares do Rio Grande do Sul e do Brasil, os quais registrou em
dezenas de publicações e discos. Serviu de modelo, em 1954, para a Estátua do Laçador,
obra do escultor Antônio Caringi, instalada na zona Norte da capital e
escolhida em 1992, como símbolo de Porto Alegre. Paixão Côrtes nasceu em 12 de
julho de 1927. Teve sua vida profissional ligada à Secretaria da Agricultura do
Rio Grande do Sul, onde desenvolveu trabalhos relacionados com a ovinotecnia,
com destaque para a introdução da tosquia australiana e a tipificação de
carcaças.
(...)
O folclorista participou ainda de
uma série de solenidades culturais e cívicas que deram origem aos símbolos da
Chama Crioula e do Candeeiro Crioulo e que inspiraram a criação da Semana
Farroupilha, além de ajudar na fundação do 35 Centro de Tradições Gaúchas, o
primeiro CTG, em 1948. Recebeu a Medalha Negrinho do Pastoreio como
reconhecimento por serviços prestados à cultura e Medalha Assis Brasil em
destaque por seu trabalho em prol da agropecuária.
Realizou cursos sobre tradição,
folclore e danças tradicionais, ensinou professores em especializações
acadêmicas, promoveu espetáculos de danças e, como radialista, propagou por
mais de quatro décadas a cultura popular do homem do campo. Seu trabalho deu
origem aos CTGs e ao MTG.
(Correio do Povo, 28
de agosto de 2018)
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