sexta-feira, 23 de junho de 2017

Foto rara de Machado de Assis


Foto rara de Machado de Assis presidindo a ABL é encontrada

Pesquisador divulgou imagem do escritor feita em outubro de 1905.
Segundo ele, este é o único registro do autor na função já descoberto.


→ Imagem encontrada por pesquisador que diz ter encontrado o único registro de Machado de Assis (em destaque sob a seta) presidindo uma sessão da ABL, em 31 de outubro de 1905 (Foto: Divulgação)

→ O próprio “descobridor” da foto reconhece que a qualidade “é ingrata”. Mas vale pela raridade: trata-se do único registro já encontrado do escritor Machado de Assis presidindo uma sessão da Academia Brasileira de Letras (ABL), entidade fundada por ele. A imagem (veja acima), que mostra uma reunião de 31 de outubro de 1905, vai ser reproduzida na edição de dezembro na “Revista Brasileira”, publicação trimestral da ABL.

→ O pesquisador independente Felipe Rissato, que encontrou a rara fotografia, explica que ela saiu originalmente na revista “Leitura para Todos” em dezembro daquele ano. Mas jamais foi republicada ou mencionada em qualquer arquivo.

→ “A própria Academia registra como documento iconográfico mais antigo de uma sessão pública a fotografia da sessão realizada em 17 de maio de 1909, já presidida por Rui Barbosa”, diz Rissato em entrevista ao G1 por telefone. De acordo com ele, a nova foto de Machado se torna agora “o registro iconográfico mais antigo de uma sessão da ABL”.

→ Na foto, Machado de Assis aparece entre os acadêmicos Alberto de Oliveira e Silva Ramos. Eles o auxiliavam no andamento da sessão que elegeu Mário de Alencar para ocupar a cadeira nº 21 da ABL, vaga pela morte de José do Patrocínio.

→ Rissato explica como pôde assegurar que é mesmo o autor de “Memórias póstumas de Brás Cubas” e “Dom Casmurro” na imagem:

→ “A legenda [da revista] auxilia, uma vez que dá a data exata da sessão, sobretudo por ser uma revista contemporânea. Porém, mesmo que muito pouco, é possível divisar a face do bruxo, ensanduichada entre os rostos de Alberto de Oliveira e Silva Ramos”.

→Ele justifica citando que a foto é bem semelhante a outra feita em 1904 (veja abaixo).


Imagem de perfil do escritor Machado de Assis em 1904
(Foto: Divulgação)

→ A imagem de 1905 faz parte de uma pesquisa iconográfica de Machado de Assis feita por Rissato. “O número 89 da 'Revista Brasileira' vai publicar ao todo 38 fotos”, descreve o pesquisador. “Dentre elas, apenas uma é inédita, feita em 1880 pelo fotógrafo Isley Pacheco. E será a primeira vez em que o conjunto estará reunido.”

→ Na edição 87 da “Revista Brasileira”, Rissato já havia divulgado uma crônica até então desconhecida na qual Machado de Assis lamentava a morte de sua mãe (veja abaixo). Intitulado “Lembranças de minha mãe”, o texto foi originalmente publicado em 1860 na revista “Revista Luso-Brasileira” e sem assinatura.

→ “Não era raro o Machado de Assis escrever coisas anônimas e só depois comprovadas”, diz Rissato. “Neste caso, foi porque é um tema tão triste, tão caro a todos nós, a perda da mãe.”

→ Crônica “Lembranças de minha mãe”, publicada anonimamente em 1860 na 'Revista Luso-Brasileira' e republicada em junho de 2016 na 'Revista Brasileira', da ABL; pesquisador abrui autoria a Machado de Assis.

(Do Blog Pop & Arte)

Lembranças de minha mãe*

*1849 – Morre, tuberculosa, Maria Leopoldina Machado de Assis, mãe do escritor.

Minha mãe morreu tão cedo!...

Eu era pequeno, era feliz; porque não conhecia os enganos do mundo, e os pesares da vida; inocente corria entre as campinas, colhia flores e ia derramá-las sobre minha mãe, saltava os regatos que encontrava no meu brincar, corria atrás da borboleta azul, tratava com ela um combate que acabava pela vitória; adormecia sossegado e feliz no meu berço inocente, embalado pelas cantigas e pelos beijos maternos que nas faces recebia; eu dormia o sono da infância era feliz: oh! quem me dera sempre viver assim! Anos depois, quando podia retribuir-lhe as suas carícias; quando mais me era precisa a sua existência, a cruel sorte me a roubou; oh! quanto sofro hoje que isolado do mundo, cansado da vida, não encontro o seu seio para esconder as minhas lágrimas, e nem os seus hinos para adoçar-me as dores.

Uma mãe!... Palavra sublime, que enche o coração de prazer e entusiasmo, que eleva a alma a um viver inocente e belo.

Uma mãe!...único cate que nos ama no mundo, que compreende as nossas dores, que sofre quando sofremos, que chora quando a nossa alma é triste, que se desespera quando choramos, e que morre deixa o mundo de ilusões e prazeres para ir viver no mundo das felicidades. – Dores reais; sofrer sincero.

Oh! como é triste existir sem ter o elo que nos prende à vida, sem os afagos do verdadeiro amor, sem as doçuras da verdadeira afeição. E haverá quem chore uma mãe?

Quem não sinta um vácuo no coração quando uma lágrima se desliza sobre o túmulo de mãe! Quem não sofra muito sem os cuidados desse anjo que o Senhor enviou à terra para ensinar-nos o amor, o dever e a religião?

Oh! eu sou infeliz, muito infeliz...

Aos 9 anos perdi minha mãe, fiquei só no mundo, só como a rola sem ninho! Entre no mundo das ilusões e dos enganos; sofri muito, descri muito. A sociedade egoísta e corrupta fez-me descrer de todas as felicidades, de todo o amor sincero e verdadeiro, de toda a virtude; porque já tinha perdido o único ente que me amava com amor sincero, e a crença que me fazia feliz: fugido do mundo, entreguei-me à solidão e muito chorei, porque não encontrei quem me acalentasse nos braços e mitigasse as minhas dores.

‒ Não tinha mãe!

Como eu sofro!... minha mãe, lá na mansão dos justos, lança a bênção sobre teu filho, pede a Deus pela felicidade do padecente. Eu sem ti, sem o perfume da flor que me fazia feliz e crente, chorarei sempre sem consolação; porque uma mãe perde-se uma vez e nunca mais se encontra.


Este texto, se for mesmo de Machado de Assis, foi escrito em 1860, quando ele tinha apenas 21 anos, talvez a idade justifique a inocência e a ingenuidade do tema.



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