sábado, 15 de julho de 2017

Assalto ao trem pagador:

Crime quase perfeito.


No dia 14 de junho de 1960, “o trem pagador da Central do Brasil, de prefixo SAP-21, foi assaltado por indivíduos mascarados, que fizeram a composição descarrilar, dinamitando os trilhos no km 72 da linha auxiliar, entre as estações de Japeri e Governador Portela, no Estado do Rio. Detido o trem, os assaltantes invadiram o vagão pagador, disparando armas automáticas de 9mm, matando o trabalhador de linha, Francelino Paulino Correia, e ferindo três outros funcionários, que resistiram à bala. Apoderando-se do dinheiro do pagamento (27 milhões e 600 mil cruzeiros), os ladrões se embrenharam num capinzal, atingindo a estrada de rodagem, onde os aguardava uma camioneta de cor amarela, de marca Ford tipo F-100”.

(Folha de S. Paulo)

Um ano depois, o famoso detetive Perpétuo de Freitas desvendava o crime. O assalto tinha sido planejado na “tendinha” de Heitor Fernandes, no morro de Mangueira (RJ). Sebastião de Souza, Zeferino dos Santos, Manuel da Silva, Heitor Fernandes, Nilo Magno de Melo, Adilson de Carvalho e Edwar Gomes durante um mês prepararam tudo nos mínimos detalhes: abriram uma “picada” no matagal para, do lugar do assalto, chegarem à camioneta, e deixaram pistas falsas (cigarros americanos, charutos estrangeiros e uma garrafa de uísque), para que a policia pensasse que se tratava de uma quadrilha internacional. Manuel da Silva ficou em Japeri e avisou a hora da passagem do trem pela Garganta do Diabo, no km 71 da linha auxiliar; Sebastião de Souza comandou quatro homens, dando as ordens por um megafone, enquanto outro esperava na camioneta. A realidade imitava o cinema. Pela primeira vez um trem pagador era assaltado no Brasil, numa ação fulminante, alcançando total sucesso.

Nosso Século – Brasil – 1960/1980 (I)

Assalto ao trem pagador da Central do Brasil virou filme

          
O célebre assalto ao trem pagador da Central do Brasil chegou aos cinemas em 1962, apenas dois anos depois de sua ocorrência no mundo real. Quem dirigiu o filme foi Roberto Farias. No elenco de O assalto ao trem pagador, o então galã Reginaldo Farias, Grande Otelo, Eliezer Gomes (numa interpretação memorável como o bandido Tião Medonho), Jorge Dória, Ruth de Souza, Luíza Maranhão, Helena Ignez, Átila Iório e Dirce Migliaccio, ligados a correntes diferentes do teatro ou do cinema, mas unidos pela convicção de que o Cinema Novo era o melhor caminho estético para as telas brasileiras.

Se pensarmos em termos de gêneros, O assalto ao trem pagador filia-se ao cinema policial (ou, usando nomenclatura que muitos teóricos apreciam e talvez seja mais adequada, mesmo se menos conhecida, cinema criminal). É, contudo, manifestação incomum na categoria. Em geral, o filme criminal concentra sua atenção no delito ou na investigação a respeito dele.

O assalto ao trem pagador prefere olhar em outras direções. Primeiro, se interessa pelas consequências do enriquecimento súbito sobre os criminosos, investiga o que ocorre no comportamento deles quando sua vida dá uma súbita guinada.

Segundo (como não poderia deixar de ser em um filme brasileiro na virada dos anos 50 para 60), estuda essas consequências não da perspectiva de uma psicologia dramática, mas contra um pano de fundo social e econômico. O que nos chama a atenção em O assalto ao trem pagador é o Brasil, ou melhor, o conjunto de representações coletivas que chamamos de Brasil – o marginal com cara de marginal e o outro que pode ir onde quiser porque parece playboy, as pessoas que parecem fazer parte da classe social a que pertencem e as que não parecem, o morro e a favela. No fim das contas, mesmo meio século depois, nada muito diferente dos dias de hoje.

(em com.br.Gerais)

O filme foi:

→ Baseado em um assalto real: Baseado em um assalto real ocorrido em 14 de junho de 1960, às oito horas e vinte e cinco minutos da manhã, a quadrilha liderada por Tião Medonho, cinco mascarados armados de metralhadoras e revólveres deram o bote no trem pagador de prefixo SAP-21, tripulado pelo maquinista Venceslau José de Castro e pelo foguista Pedro José da Silva.

→ “Curva da Morte”: Nesse momento, a composição chegava à chamada “Curva da Morte”, no quilômetro 71 da linha auxiliar da Central do Brasil, próxima à estação Japeri.

→ O roubo de 27 milhões de cruzeiros: Levava o pagamento de mais de mil ferroviários dessa e outras estações. Não era pouca coisa: 27 milhões de cruzeiros, a moeda brasileira da época. Daria para comprar 108 fuscas, modelo do ano, 0 km, ou montar um impensável corcovado de 1.350 toneladas de batata de primeira qualidade. Todo esse dinheiro estava contido numa caixa de madeira, guardada pelo pagador Cícero de Carvalho e dois auxiliares.

Como foi o assalto: Para facilitar o ataque, os assaltantes dinamitaram os trilhos e fizeram descarrilar a locomotiva e o vagão. Entraram no trem disparando. Mataram um funcionário da ferrovia, Francelino Paulino Correa, que estava fora de serviço, viajando de graça, e feriram outros quatro. Pegaram o dinheiro e fugiram numa camioneta Ford de cor creme.

→ Filme impactante: O filme causou impacto por sua forte dose de realismo. Os tiros foram de verdade.

→ O mesmo vagão: O vagão usado foi o mesmo do assalto. Estava sendo desmontado na oficina, mas a Central concordou em reconstruí-lo, e na filmagem apareceram até os furos das balas de 1960.

→ Os atores estavam no dia do crime: Muitos dos atores coadjuvantes foram os próprios funcionários que conduziam o trem no dia do crime. Por exemplo, o maquinista Venceslau José de Castro.
→ Livre reconstituição: Trata-se de uma reconstituição livre na qual somente o nome do líder da quadrilha foi mantido.

→ A estreia de Eliezer: O protagonista, Tião Medonho, foi interpretado pelo ator negro Eliézer Gomes, funcionário público, protestante e cantor da Igreja Presbiteriana de Madureira. Até então jamais havia aparecido no cinema, foi escolhido num concurso nacional.

→ Em números: Rodado em 62 dias, ao custo de 18 milhões de cruzeiros, mais da metade do que fora roubado do trem pagador, havia dois anos.

→ Os extras do DVD: Nos extras do DVD existem duas versões do filme, a original e a comentada pelo diretor, com legendas em português, inglês e espanhol. O trailer do filme é apresentado por Grande Otelo e mostra, entre outras informações, o concurso que escolheu Eliezer Gomes para o papel de Tião Medonho.

Prêmios

PRÊMIO SACI
Ganhou:
Melhor Ator Coadjuvante - Jorge Dória
Melhor Atriz Coadjuvante - Dirce Migliaccio
Melhor Roteiro - Roberto Farias

PRÊMIO GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO
Ganhou:
Melhor Roteiro - Roberto Farias

FESTIVAL DE CURITIBA
Ganhou:
Melhor Atriz Coadjuvante - Luíza Maranhão
Melhor Revelação - Eliezer Gomes

TROFÉU CINELÂNDIA
Ganhou:
Melhor Revelação - Eliezer Gomes

FESTIVAL DA BAHIA
Ganhou:
Melhor Filme
Melhor Ator - Eliezer Gomes
Melhor Atriz Coadjuvante - Luíza Maranhão
Melhor Roteiro - Roberto Farias

FESTIVAL DE LISBOA
Ganhou:
Prêmio Caravela de Prata

FESTIVAL DE ARTE NEGRA
Ganhou:
Prêmio Especial do Júri
Ranking dos Melhores Filmes Nacionais
Eleito o décimo nono melhor filme nacional de todos os tempos segundo a Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).

(Do Blog Adorocinema)




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