Lutamos
contra o silêncio do corpo. Ainda que haja dor, demora, descaso. Somos feitos
de células, céus, terras, tecidos, versos, veias. A vida é maior que tudo e,
diante do susto de perdê-la, ninguém volta a ser o mesmo. Respiração profunda.
Batimentos, sentidos, temperatura. Pulso, impulso, oxigênio. Esterilidade das
paredes brancas e do avental azul suave contrasta com o cítrico desejo de
resistir. Rodeados por aparelhos, bolsas de soro, distantes de casa, os olhos
encharcam, denunciam que nem tudo é palpável, matéria, rigidez.
Há
palavras soltas, pensamentos sem nome. Lá fora, as filas crescem. Guardar
alguns sonhos. Aguardar. Guerra travada contra os invasores dos órgãos e outros
desequilíbrios. Para os médicos, somos pacientes. Para o sistema, temos que ter
paciência. E, de nós, o que queremos é paz. Não a paz calada. A paz que canta e
dança, que insiste em proferir a entonação de dentro do peito.
Alina Souza, no Correio do Povo
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