No início de 1900
Homem que se prezasse era
bem-falante. A oratória compunha a personalidade masculina do mesmo modo que o
fraque, o chapéu-coco, o cravo na lapela e o soberbo bigode – tudo isso
acompanhado, naturalmente, de um título de doutor.
Um retrato irônico da oratória
brasileira durante a Belle Époque foi
feito pela revista Kósmos, em 1906:
“Vede-o, austero, severo, sério, braço esticado no ardor do improviso, olhos
cerrados pela contenção do espírito, afirmando a sua dedicação a um partido ao
qual talvez tenha que trair amanhã, ou afirmando o seu nobre desejo de morrer
pela Pátria, quando talvez o seu único sincero desejo seja o de repetir a
galantina de macuco que foi servida há pouco... A oratória política de sobremesa
é hoje uma instituição indestrutível. É em banquetes que os presidentes eleitos
apresentam a sua plataforma, é em banquetes que se fundam partidos, e é em
banquetes que se fazem e desfazem ministérios. São banquetes fartos,
magníficos, em que se gasta dinheiro a rodo: e isso não admira, porque neles é sempre
o povo quem paga o pato... ou o peru. O champagne
espuma nas taças. Os convivas, encasacados e graves, fingem prestar atenção ao
programa político do orador, mas estão realmente namorando o prato de fios
d´ovos... E o orador invoca os “fundadores da nossa nacionalidade”, os
“sagrados princípios de Oitenta e Nove”, e declara solenemente que “O Brasil
(...) será em breve, graças a uma política enérgica, o primeiro país do mundo!
Porque ele, orador, está disposto a dar por isso a sua tranquilidade, o seu
saber, o seu estudo, a sua saúde, a sua vida!” E senta-se suado e comovido,
dizendo ao vizinho da esquerda: “Que tal? falei bem? Passe-me aquele prato de
marrons-glacés...”
Existiam, no entanto, numerosos
outros tipos de oradores, que sempre arrumavam um jeito de dar o seu toque
pessoal às ocasiões que se apresentavam.
Tipos de oradores
O orador político
→ “O meu passado responde pelo meu futuro... Saberei cumprir
o meu dever!”
O orador dos clubes
→ “Senhores! Eu bebo à mulher, essa entidade sublime que...”
O orador dos grupos
→ “Senhores! O belo sexo é o encanto desta vida!”
O orador familiar
→ “Senhores! Neste momento solene, eu faltaria ao mais
sagrado dos deveres...”
O orador pé-de-boi
→ “Senhores! Discurso é discurso, e negócio é negócio!”
(Nosso Século –
Brasil – 1900/1910 (I))
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