sábado, 8 de julho de 2017

Varões que mandam e governam

No início de 1900


Homem que se prezasse era bem-falante. A oratória compunha a personalidade masculina do mesmo modo que o fraque, o chapéu-coco, o cravo na lapela e o soberbo bigode – tudo isso acompanhado, naturalmente, de um título de doutor.

Um retrato irônico da oratória brasileira durante a Belle Époque foi feito pela revista Kósmos, em 1906: “Vede-o, austero, severo, sério, braço esticado no ardor do improviso, olhos cerrados pela contenção do espírito, afirmando a sua dedicação a um partido ao qual talvez tenha que trair amanhã, ou afirmando o seu nobre desejo de morrer pela Pátria, quando talvez o seu único sincero desejo seja o de repetir a galantina de macuco que foi servida há pouco... A oratória política de sobremesa é hoje uma instituição indestrutível. É em banquetes que os presidentes eleitos apresentam a sua plataforma, é em banquetes que se fundam partidos, e é em banquetes que se fazem e desfazem ministérios. São banquetes fartos, magníficos, em que se gasta dinheiro a rodo: e isso não admira, porque neles é sempre o povo quem paga o pato... ou o peru. O champagne espuma nas taças. Os convivas, encasacados e graves, fingem prestar atenção ao programa político do orador, mas estão realmente namorando o prato de fios d´ovos... E o orador invoca os “fundadores da nossa nacionalidade”, os “sagrados princípios de Oitenta e Nove”, e declara solenemente que “O Brasil (...) será em breve, graças a uma política enérgica, o primeiro país do mundo! Porque ele, orador, está disposto a dar por isso a sua tranquilidade, o seu saber, o seu estudo, a sua saúde, a sua vida!” E senta-se suado e comovido, dizendo ao vizinho da esquerda: “Que tal? falei bem? Passe-me aquele prato de marrons-glacés...”

Existiam, no entanto, numerosos outros tipos de oradores, que sempre arrumavam um jeito de dar o seu toque pessoal às ocasiões que se apresentavam.

Tipos de oradores

O orador político

→ “O meu passado responde pelo meu futuro... Saberei cumprir o meu dever!”

O orador dos clubes

→ “Senhores! Eu bebo à mulher, essa entidade sublime que...”

O orador dos grupos

→ “Senhores! O belo sexo é o encanto desta vida!”

O orador familiar

→ “Senhores! Neste momento solene, eu faltaria ao mais sagrado dos deveres...”

O orador pé-de-boi

→ “Senhores! Discurso é discurso, e negócio é negócio!”

(Nosso Século – Brasil – 1900/1910 (I))


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