sábado, 26 de agosto de 2017

O Caramuru



Frei Santa Rita Durão

No dia 13 de março de 1531, os navios de Martim Afonso chegaram à baía de Todos os Santos, local bem conhecido pelos portugueses. Lá, a expedição encontrou um náufrago que vivia há mais de 20 anos no Brasil. Os índios o chamavam de Caramuru e ele iria se tornar uma figura-chave na história colonial do Brasil. O Caramuru estava casado com a índia Paraguaçu – com a qual tinha vários filhos. Paraguaçu era filha do principal chefe guerreiro da região e, graças ao casamento, Caramuru havia adquirido posição proeminente entre os Tupinambá da Bahia.

O lugar de destaque e o respeito dos Tubinambá por Caramuru se manteriam por muito tempo. Tanto é que, 18 anos mais tarde, foi graças à sua presença – e às boas relações que ele mantinha com os nativos – que Tomé de Sousa, o primeiro governador-geral do Brasil, decidiu se instalar justamente na Bahia e fundar ali, em maio de 1549, a primeira capital do Brasil, Salvador.

Não se sabe exatamente quando o navio do Caramuru naufragou na Bahia. De acordo com seu próprio relato, o naufrágio se dera em 1509 ou 1510. Aparentemente, apenas ele sobreviveu do desastre que vitimou toda a tripulação. Os fatos que se seguiram ao naufrágio seriam envoltos em lenda depois que frei José de Santa Rita Durão escreveu o poema épico Caramuru, em 1781. Muitas das informações referentes à vida e à obra do misterioso náufrago foram extraídas dessa obra de ficção e, partir de então – e até hoje –, tratadas como fatos históricos.

O Caramuru se chamava Diogo Álvares Correia e nascera em Viana, norte de Portugal. A própria origem do apelido foi romantizada por Santa Rita Durão. Segundo o frei, “Caramuru” queria dizer “Dragão Saído do Mar” ou “Homem do Trovão”. O real significado da palavra, porém, parece ser “moreia”, espécie de enguia – peixe-elétrico que dá “choque”. Ao ser visto pelos nativos, entre as rochas, após o naufrágio, Diogo Correia teria disparado seu mosquete para o ar, apavorando os indígenas. “Como a moreia é um peixe comprido e fino como a espingarda, e faz estremecer e fere, assim os nativos batizaram seu portador”, escreveu o historiador Francisco Varnhagen em 1854. Outros pesquisadores, porém, acham que a palavra provém de “caray-muru”, que significa “homem branco molhado”.

(...)

Apesar de seu poder e de sua amizade com os nativos, Caramuru não conseguiu impedir a revolta dos Tupinambá contra os colonos escravagistas, que vieram com Francisco Pereira Coutinho. Esse conflito eclodiu por volta de 1545 –, e nele foi morto o próprio donatário. Poupado do massacre, Caramuru prestaria grande auxílio ao governador Tomé de Sousa, de 1549 até 1553. Ele morreu com quase 70 anos, em 5 de outubro de 1557.


(Do livro “Náufragos, Traficantes e Degredados”, de Eduardo Bueno)




Um comentário:

  1. Não sei qual é a verdadeira definição de Caramuru, o que eu sei é que este era o nome do meu time de futebol da minha infância, e pra mim era o melhor, esse nome me trás belas e saudosas recordações.

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