segunda-feira, 18 de setembro de 2017

A paixão que virou canção





Iole Tredice Paz e João Pedro Paz ainda vivem a “storia d´amore” iniciada em fevereiro de 1945, durante a II Guerra.

Em 21 de fevereiro de 1945, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) na II Guerra Mundial, após três meses de intensos combates, conquistou Monte Castelo, a posição alemã que impedia o avanço do exército aliado no norte da Itália. Menos de três meses depois, houve a rendição alemã naquele país.

Logo após a tomada de Monte Castelo, o soldado gaúcho João Pedro Paz recebeu folga para visitar a cidade de Pescai, onde haveria um baile. Lá conheceu Iole, uma bela italiana de 17 anos. Foi paixão à primeira vista.

O relacionamento durou até junho de 1945, quando as tropas da FEB retornaram ao Brasil, e o casal foi obrigado a se despedir no cais do porto de Nápoles. Já no Brasil, Paz participou de uma grande festa no Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, com as presenças do presidente Getúlio Vargas e do cantor Vicente Celestino.

Após ouvir a bela história de amor de Pedro e sua jovem Iole, Celestino, então um dos artistas populares do país, compôs uma das mais importantes canções do pós-guerra, Mia Gioconda. Cantada em português e italiano, a música foi um sucesso na época e já teve diversas regravações, inclusive uma que foi incluída na trilha sonora da novela O Rei do Gado, da Rede Globo.

De volta a Porto Alegre, Paz recebeu uma carta de Iole, na qual ela contava que estava grávida. O pracinha procurou, então, a embaixada da Itália para providenciar o casamento, que foi realizado em julho de 1946, por procuração. Em outubro daquele ano, Iole desembarcou no cais do Guaíba com o filho de três meses de idade.

Hoje, aos 88* anos, além de se dedicar a reunir e divulgar os feitos da FEB, João Pedro Paz ainda vive sua bela storia d´amore com Iole.

Cel Leonardo Araújo, historiador do Colégio Militar de Porto Alegre.

(Zero Hora, in Almanaque Gaúcho, de 21.02.2011)

*Ano da matéria em ZH, fevereiro de 2011. Hoje ele está com 97 anos, e ela, 92.

Nota do Informe Especial


João Pedro Paz e Iole Tredici completam hoje, 1º de julho de 2020, 75 anos de casados. Não haverá festas, preocupação básica em tempos de pandemia.

Minha Gioconda

(Vicente Celestino)

Do dia que nascemos e vivemos para o mundo,
Nos falta uma costela que encontramos num segundo.
Às vezes, muito perto desejamos encontrá-la,
No entanto é preciso muito longe ir buscá-la.
Vejamos o destino de um pracinha brasileiro:
Partindo para a Itália transformou-se num guerreiro
E lá, muito distante, despontar o amor sentiu
E disse estas palavras a uma jovem quando a viu:

“Italiana,
La mia vita oggi sei tu!
Io te voglio tanto bene,
Partiremo due insieme.
Ti lasciar non posso più.
Italiana,
Voglio a ti piccola bionda,
Ha il viso degli amori,
La tue lapri son due fiori.
Tu sarai mia Gioconda.”
Vencido o inimigo que antes fora varonil,
Recebeu ordem de embarcar para o Brasil.
Dizia a mesma ordem:
“Quem casou não poderá levar consigo a esposa,
a esposa ficará.”
Prometeu então o bravo, ao dar baixa e ser civil:

“Embarcarás amada, para os céus do meu Brasil!”
E, enquanto ela esperava lá no cais napolitano,
Repetia estas palavras no idioma italiano:

“Brasiliano,
La mia vita oggi sei tu!
Io te voglio tanto bene,
Quiedo a Dio que tu venga.
Ti scordar non posso più!
Brasiliano,
Sono ancora tua bionda!
Mi sposo hai lasciato,
Questo cuore abandonato
Che chiamasti di Gioconda.
Di Gioconda!
Di Gioconda!”


Falecimento

Faleceu, aos 97 anos, o militar gaúcho João Pedro Paz, membro da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que lutou na Segunda Guerra Mundial contra as Forças do Eixo. A informação foi confirmada ontem (16.09.2020) pelo Comando Militar do Sul, em publicação, em que lamentou a perda e citou uma frase do tenente Paz: “o espírito do velho soldado permanece vivo, cravado na lembrança e no coração de todas as gerações do presente e do futuro”.

Paz nasceu em 29 de novembro de 1922 em Caçapava do Sul, na Campanha, mas se considerava cidadão de Cachoeira do Sul, cidade da região central do Estado. Aos 17 anos, iniciou sua trajetória militar alistando-se para servir à FEB, com passagens em quartéis de Porto Alegre e Santa Maria.

Em 2 de julho de 1944, o então soldado Paz embarcou, com cerca de 5 mil militares, para a Itália, onde o Brasil iria se juntar às demais forças aliadas no combate da Segunda Guerra Mundial. Ele tinha a função de soldado volteador e utilizava um fuzil semiautomático.

Após o fim do conflito, Paz foi obrigado a deixar sua amada Iole Tredici, que havia conhecido em um baile vespertino na cidade de Pescia, na Itália. Três meses após a volta ao Brasil, ele recebeu uma carta de Iole, que contava estar grávida. A história causou comoção em Porto Alegre, a ponto de um jornalista da extinta Folha da Tarde iniciar campanha para arrecadar fundos e bancar a vinda de Iole. Os dois casaram-se por procuração − ele, em Porto Alegre, ela, em Pescia. Meses depois, Iole chegou ao Brasil para viver o seu grande amor, que completou 75 anos em julho deste ano. O filho Pedrinho, que tinha apenas três meses quando atravessou o Atlântico com a mãe, morreu aos 12 anos. Além dele, o casal ainda teve outra filha, Ana maria.

                 (Do jornal Zero Hora, de 17 de setembro de 2020)

 


4 comentários:

  1. O romantismo nunca sai de moda, diminui com o tempo, e apos anos resurge das cinzas, pois é movido pelo amor, e este nunca morrera !

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito boa observação, o amor, em qualquer época e em qualquer circunstância, acontece de forma mais inesperada.

      Excluir