sábado, 16 de setembro de 2017

Fordinho 29


Rolando Boldrin


Dito Preto, um amigo meu, tinha caminhãozinho Ford 29 para puxar cana na Fazenda. Havia comprado à prestação, mas o Fordinho estava acabado.

Ele trabalhava com o caminhãozinho Fordeco durante a semana e no sábado colocava as varas no caminhãozinho e ia pescar. Naquele sábado, ele já tinha tomado 'umas e outras' e ia indo para o Rio Sapucaí. No meio da estrada, apareceu um guarda rodoviário. O policial fez sinal para ele parar. Dito Preto foi indo com o caminhãozinho pelo acostamento. 'Beeeeeeem' lá na frente parou. O guarda chegou e disse:

- Deixa eu ver a carta de motorista.

- Seu guarda, não vou enganar o senhor. Não vou dizer que tenho carta porque eu não tenho. Comprei esse caminhãozinho para puxar cana na fazenda e ainda não deu pra comprar a... carta.

- Então deixa eu ver o documento do caminhão.

- Seu guarda, não vou enganar o senhor. Não vou dizer que tenho documento porque não tenho. Ainda não comprei não, senhor.

- Não tem carta, não tem documento...

- Mas todo mundo me conhece por essas bandas, seu guarda. É só perguntar. Todo mundo sabe que o caminhãozinho é meu. Quando tiver tempo, vou comprar a carta e o documento lá com o delegado.

- Então acende os faróis.

- Vai desculpar, seu guarda, mas o direito não tem. E o esquerdo tá queimado.

- E a buzina?

- Não vou dizer pro senhor que tenho, porque não tenho. Comprei o caminhãozinho à prestação e não deu pra colocar a buzina.

- E o breque? Pelo menos o breque, o senhor... tem?

- O senhor acha que se eu tivesse breque não tinha parado lá atrás, quando o senhor mandou?

- Se eu for multar o senhor, a multa vai ser tão alta que nem vendendo o caminhãozinho o senhor vai poder pagar. Então, vai pescar de uma vez.

- Mas não tem bateria, seu guarda. O senhor ajuda a empurrar?

E o guarda empurrou.


Nenhum comentário:

Postar um comentário