quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Hospital



Doente da Santa Casa...
Que sina, que desgraceira:
De segunda a sexta-feira,
É cutucado, apalpado,
É cheirado, revirado,
Quase liquidificado
Por estudante tarado
Que junta na cabeceira.

Tiram sangue, botam sangue,
Exames de raio X,
Agulha grossa na veia,
Tacam sonda no nariz,
Martelada no joelho,
Peteleco na barriga,
Cada exame desgraçado
Pra descobrir uma lombriga.

− Diz “trinta e três”.
− Trinta e três.
− Mais uma vez.
− Trinta e três.
E a todos que vão pedindo,
Vai o infeliz repetindo:
− Trinta e três, trinta e três,
E diz quatro, cinco, seis,
Setenta, noventa e seis.

Doente da Santa Casa...
Que resistência brutal!
Seu braço é mais picotado
Que bilhete da central;
Seu fígado é mais apalpado
Que broto no carnaval;
Seu pulmão é mais ouvido
Que o Hino Nacional.

E se ele cai na besteira
De ter uma doença rara,
Dessas que nem catedrático
Diagnostica de cara,
Aí mesmo é que o infeliz
Sofre pra burro, não para:

Vem aluno, vem doutor,
Vem catedrático, reitor,
Levam o homem pro Congresso,
Doença pouco comum,
Na Santa Casa, é um sucesso.

E todo remédio novo,
Antes de ser dado ao povo,
O laboratório não esquece:
Manda a mostra pro doente
Pra ver o que é que acontece.

Se o caso é de abrir barriga,
Às vezes sai até briga.
Mas no fim tudo se ajeita:
Um que abre, outro que fecha
E o terceiro, que enfia a mecha.

Doente da Santa Casa...
Que alegria ele tem
Quando a enfermeira anuncia:
− O doutor hoje não vem.


(Texto de Max Nunes – humorista e médico cardiologista)



Nenhum comentário:

Postar um comentário