quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Nem a morte separou Caymmi e Stella Maris



Stella e Dorival jovens

Estavas desprevenida / E por acaso eu também / E como o acaso é importante, querida / De nossas vidas a vida / Fez um brinquedo também. Como na composição Nem Eu, o acaso cumpriu seu papel na vida do autor, Dorival Caymmi. Apresentou-lhe à Stella Tostes no auditório da Rádio Nacional, no Rio de Janeiro. O baiano foi assistir a um programa de calouros, e a jovem mineira subiu ao palco para cantar Último Desejo, de Noel Rosa. “Virei mármore na cadeira”, contou Dorival décadas depois, ainda apaixonado.

Encantado pela loira esbelta, não trocou palavra com ela. Mas só sossegou depois que a conheceu. Quando foram apresentados, a moça já havia sido batizada com o nome artístico Stella Maris – nada mais apropriado para ser enamorada do “amante do mar”. Casaram-se no dia do 26° aniversário dele. Stella tinha 18 anos.

Bem, não se pode dizer que depois disso Caymmi tenha, enfim, sossegado. A atriz Tônia Carreiro comentou: “O mulherio ficava louco com ele, Stella sofria, mas ele não largava aquela Stella de jeito nenhum.” A verdade é que o casal sempre se completou, dizem os amigos e filhos. Ele vivia no mundo da lua e do mar; ela tinha os pés no chão.

Depois de uma vida de 68 anos juntos, nem a morte foi capaz de separá-los. Em 2008 Stella estava internada no hospital. Já quase curada, entrou em coma. Ninguém disse nada a Dorival. O compositor de 94 anos desconfiou, porém, da piora da esposa e “entrou numa melancolia, desistiu de comer, desistiu de tudo”, contou na época a filha Nana. Acabou falecendo. Menos de duas semanas depois, foi a vez de Stella.


Dorival Caymmi: O mar e o tempo, de Stella Caymmi
Editora 34, 2002.


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