quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Pintura Fim de Romance


Por Luciara Ribeiro


A obra apresentada na primeira série, corresponde a uma pintura de paisagem do início do século XX, especificamente de 1912, essa é uma obra que se assemelha aos modos da pintura acadêmica dos artistas formados pela Escola de Belas Artes, no Rio de Janeiro, durante a segunda metade do século XIX e inicio do XX. O estilo mencionado está vinculado à ideia de retomada dos modelos clássicos de representação da natureza, sobretudo o greco-romano, como se pode observar na obra de Antonio Parreiras.

É necessário frisar que, o período de transição entre o final do século XIX e inicio do século XX, ficou caracterizado tanto por obras que seguem o modelo clássico, quanto obras que usam o moderno, que rompem com o que determinava a academia.

Na tela de Parreiras titulada “Fim de Romance”*, podemos notar a influência acadêmica tanto no modo de pintar quanto no tema escolhido, uma paisagem de interior. O espaço da obra nos determina o tipo de ambiente e o local em que se passa à narrativa representada, um meio rural reconhecido pela estrada sem revestimento asfáltico, a falta de movimentação no local, quase deserto, pela vegetação rasteira e pelas vestimentas típicas de habitantes desses locais. 

A observação da pintura nos possibilita concluir que uma viagem a cavalo foi interrompida, anúncio de um suicídio. Um homem vestido ao estilo gaúcho, circunstância sugestiva de o personagem ter sofrido alguma decepção amorosa que lhe removeu por completa a vontade de viver. No primeiro plano da pintura, encontra-se um corpo masculino adulto estendido na estrada, como se esse estivesse sido jogado. Seus membros superiores e inferiores encontram-se afastados e a alguns centímetros do seu lado direito há um chapéu, que possivelmente tenha caído da sua cabeça durante a queda e rolado, ou esse, pode ter sido levado pelo vento e parou por alguns instantes no local. O corpo do personagem representado não possui movimentos, o que demonstra ser um corpo morto, em sua mão direita há uma arma de fogo, esse a segura sem nenhuma força com uma expressão facial serena e tranquila, como em um sono profundo.

Há um tímido sangue escorrendo de sua cabeça, possivelmente é esse o lugar onde a bala da arma penetrou ao atirar, já suas vestes estão intactas e sem nenhum vestígio de sangue, como se observa na sua camisa de mangas longas em tom rosa claro, sobre ela na altura do pescoço há um lenço azulado e, a altura de sua cintura, observamos outro lenço, esse maior que o anterior, amarrado em volta do seu corpo e sua calça cinza que fica a mostra apenas da altura dos joelhos para cima, o restante de calça encontra-se no interior do cano alto de sua bota marrom-bege.

Ao lado do corpo estendido, em um segundo plano, há um cavalo de pelagem marrom que carrega sobre seu “lombo” uma cela, seu pescoço inclina-se ao corpo, sua boca cheira-o como um cão, que fareja.

O terceiro plano é identificado pela representação do céu e um clima um pouco nebuloso, com uma mistura de nuvens cinzentas com outras mais claras é um céu azulado, mas que se aproximado ao violeta.

A sombra dos personagens foi definida pelo pintor através de pincelas suaves para o lado direito e as cores usadas na composição são em sua maioria frias, é evidente não haver na tela o uso predominantes de cores “puras”, ou melhor, percebemos a preocupação de Parreiras em misturar as tintas no ato de pintar e tentar aproximá-las dos tons encontrado em uma natureza real.

Podemos identificar as linhas de composição da tela, em que a linha do horizonte divide o quadro em uma fração de aproximadamente três quartos, distinguindo céu e solo, a ilusão de perspectiva é dada por uma linha inclinada que concentra o seu ponto de fuga no final da estrada, seu sentido determina a essa forma e direção a essa. O corpo estendido é dado por uma linha também inclinada que cruza a linha de perspectiva e é paralela a linha do horizonte, o pescoço do cavalo possui uma linha inclinada do seu topo até o corpo do morto.

Fim de Romance foi uma das últimas telas pintadas por Antonio Parreiras, que morreu em 1937, ela é sem duvida uma obra instigante que nos memoriza a vida e obra desse grande mestre brasileiro.

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Antônio Parreiras, fotografia

* Obra de Antônio Parreiras, Niterói, RJ, 1860; Niterói, RJ, 1937 – pintada em 1912, óleo sobre tela 97 X 185 cm. Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil – transferência da Secretária do Interior, 1915.


Antônio Parreiras, autorretrato

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