Simplesmente Dona Maria
Ela partiu sem lamentos;
talvez levando consigo o passaporte visado da eternidade.
Carinhosa,
sem ser derramada;
Discreta,
sem ser omissa;
Firme, sem
ser agressiva;
Decisória,
sem ser autoritária;
Conservadora, sem ser retrógada;
Gestora, sem
ser ditatorial;
Humorada
irônica, sem ser corrosiva;
Amorosa, sem
exibicionismo;
Indutora,
sem ser reticente;
Presente,
sem ser espaçosa;
Educadora, sem ser professoral;
Amiga, sem
ser monopolista;
Parceira,
sem perder o senso crítico;
Crente, sem
ser fanática;
Perseverante, sem ser obstinada;
Bonita, sem
ser deslumbrante;
Disponível,
sem ser intrometida;
Perspicaz,
sem ser inquisidora;
Idosa, sem
nunca ter sido velha;
Madrasta
formal dos que a queriam como mãe.
Mãe devotada
de quem a teve como estrela-guia.
Tinha
defeitos, posto que humana, e nunca se perdoou por cometê-los.
Amava os
seus, mas não os liberava, exigente, de seus deveres.
Assim era como eu a via. Seguramente,
com a parcialidade de tantos afetos e submisso ao ensinamento oportuno do
pensador espanhol: “Todo depende del
color del cristal com que se mira”.
Na alvorada farroupilha, às 6h30min do 20 de setembro, antevéspera do florir
das rosas primaveris, ao sopro suave da brisa matinal, a velinha, ainda
bruxuleante, da vida apagou-se.
Ela partiu sem lamentos; talvez
levando consigo o passaporte visado da eternidade.
Assim como as águas calmas de um lago
plácido de quadro do Renascimento.
Assim foi o fim-início de Dona Maria,
realizadora e realizada, sem vacilações nem alardes.
Modesta na sua grandeza: Dona Maria,
minha mãe.
Carlos Alberto
Chiarelli
(No jornal “O Sul” de
07.10.2010)
Nota de falecimento:
Lamentamos informar que faleceu,
hoje, 20 de setembro, a avó paterna de Matteo Chiarelli, dona Maria Gomes
Chiarelli, 99 anos. Ela está sendo velada no Cemitério Ecumênico São Francisco
de Paula, capela A-2. O cemitério fica localizado na Avenida Duque de Caxias,
454, bairro Fragata em
Pelotas. O enterro vai ser amanhã às 10h.
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