sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Todos nós já tivemos uma mãe assim...

Simplesmente Dona Maria

Ela partiu sem lamentos;
talvez levando consigo o passaporte visado da eternidade.

Carinhosa, sem ser derramada;
Discreta, sem ser omissa;
Firme, sem ser agressiva;
Decisória, sem ser autoritária;
Conservadora, sem ser retrógada;
Gestora, sem ser ditatorial;
Humorada irônica, sem ser corrosiva;
Amorosa, sem exibicionismo;
Indutora, sem ser reticente;
Presente, sem ser espaçosa;
Educadora, sem ser professoral;
Amiga, sem ser monopolista;
Parceira, sem perder o senso crítico;
Crente, sem ser fanática;
Perseverante, sem ser obstinada;
Bonita, sem ser deslumbrante;
Disponível, sem ser intrometida;
Perspicaz, sem ser inquisidora;
Idosa, sem nunca ter sido velha;
Madrasta formal dos que a queriam como mãe.
Mãe devotada de quem a teve como estrela-guia.
Tinha defeitos, posto que humana, e nunca se perdoou por cometê-los.
Amava os seus, mas não os liberava, exigente, de seus deveres.

Assim era como eu a via. Seguramente, com a parcialidade de tantos afetos e submisso ao ensinamento oportuno do pensador espanhol: “Todo depende del color del cristal com que se mira”. Na alvorada farroupilha, às 6h30min do 20 de setembro, antevéspera do florir das rosas primaveris, ao sopro suave da brisa matinal, a velinha, ainda bruxuleante, da vida apagou-se.

Ela partiu sem lamentos; talvez levando consigo o passaporte visado da eternidade.

Assim como as águas calmas de um lago plácido de quadro do Renascimento.

Assim foi o fim-início de Dona Maria, realizadora e realizada, sem vacilações nem alardes.

Modesta na sua grandeza: Dona Maria, minha mãe.
  
Carlos Alberto Chiarelli

(No jornal “O Sul” de 07.10.2010)
  
Nota de falecimento:
  
Lamentamos informar que faleceu, hoje, 20 de setembro, a avó paterna de Matteo Chiarelli, dona Maria Gomes Chiarelli, 99 anos. Ela está sendo velada no Cemitério Ecumênico São Francisco de Paula, capela A-2. O cemitério fica localizado na Avenida Duque de Caxias, 454, bairro Fragata em Pelotas. O enterro vai ser amanhã às 10h.

Nota do Almanaque: 

Quando lemos este texto de uma bela homenagem de um filho para a sua mãe, percebemos que ele disse, na mensagem, tudo aquilo que um dia, quando perdermos nossas progenitoras, gostaríamos de escrever essas palavras para elas...





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