sábado, 28 de outubro de 2017

Maria Chorona


A voz de Maria, no final dos anos de 1930, era o único patrimônio de que ela dispunha, e ecoava na esquina da Rua da Praia com a General Câmara.


Foto: Revista do Globo

Diante do Café Colombo, ela (foto acima) vendia jornais e bilhetes. O historiador Charles Monteiro, num livro sobre as crônicas de Nilo Ruschel e a memória de Porto Alegre, registra:

“Maria Chorona representava as mulheres das camadas populares em sua faina diária pelas ruas da cidade, exercendo pequenos ofícios na luta pela sobrevivência. Seu pregão soava como um lamento aos ouvidos de Ruschel, misturando-se à voz de outros vendedores de rua nas noites frias de inverno, testemunhando a difícil condição de vida das mulheres das camadas populares”.

Os tipos populares surgem como elementos característicos da identidade urbana de Porto Alegre, como vozes que atravessavam a Rua da Praia dando-lhe uma nota pitoresca. Entre os mais característicos estavam os vendedores de jornais, como o Adãozinho, a Maria Chorona e o João da Balas. Mas também, músicos e vendedores de rua, cujos verdadeiros nomes e histórias eram desconhecidos, embora tivessem lugar na memória afetiva da Rua da Praia.

Apesar de evocar principalmente espaços e formas de sociabilidade masculinas, as mulheres também têm seu lugar de memória nas crônicas de Ruschel. Tanto àquelas que pertenciam às elites e ao meio artístico, quanto as pertencentes às camadas populares. Entre elas estava a Maria Chorona, cuja voz ecoava na memória do cronista.


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