A voz de Maria, no
final dos anos de 1930, era o único patrimônio de que ela dispunha, e ecoava na esquina
da Rua da Praia com a General Câmara.
Foto: Revista do
Globo
Diante do Café Colombo, ela (foto
acima) vendia jornais e bilhetes. O historiador Charles Monteiro, num livro
sobre as crônicas de Nilo Ruschel e a memória de Porto Alegre, registra:
“Maria Chorona
representava as mulheres das camadas populares em sua faina diária pelas ruas
da cidade, exercendo pequenos ofícios na luta pela sobrevivência. Seu pregão
soava como um lamento aos ouvidos de Ruschel, misturando-se à voz de outros
vendedores de rua nas noites frias de inverno, testemunhando a difícil condição
de vida das mulheres das camadas populares”.
Os tipos populares surgem
como elementos característicos da identidade urbana de Porto Alegre, como vozes
que atravessavam a Rua da Praia dando-lhe uma nota pitoresca. Entre os mais
característicos estavam os vendedores de jornais, como o Adãozinho, a Maria Chorona
e o João da Balas. Mas também, músicos e vendedores de rua, cujos verdadeiros
nomes e histórias eram desconhecidos, embora tivessem lugar na memória afetiva
da Rua da Praia.
Apesar de evocar
principalmente espaços e formas de sociabilidade masculinas, as mulheres também
têm seu lugar de memória nas crônicas de Ruschel. Tanto àquelas que pertenciam
às elites e ao meio artístico, quanto as pertencentes às camadas populares.
Entre elas estava a Maria Chorona, cuja voz ecoava na memória do cronista.
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