Texto de Pâmela
Carbonari
(Se você tem alguma dúvida de que a
literatura é um dos fatores mais importantes para definir a identidade de um
povo, esse post é para você – caso esteja convencido disso, continue aqui mesmo
assim)
Quando estava na escola, minha
professora de Literatura pediu que escolhêssemos um livro do Érico Veríssimo
para analisar ao longo do semestre. Ainda era abril e, apesar de já fazer algum
frio nesta época do ano no Rio Grande do Sul, o termômetro naquele dia passava
dos 25 graus. Lembro de ir à biblioteca em busca do primeiro volume de O Tempo
e o Vento suando e poucas páginas depois de começar a leitura, sentir uma
leve friagem ao ler as passagens em que Érico narra o vento Minuano cortando as
noites na estância da família Terra – “Noite de ventos, noite de mortos”.
Algum tempo depois, essa mesma
professora sugeriu que lêssemos Graciliano Ramos. Pedi o livro Vidas Secas a um
amigo que me emprestou com a seguinte recomendação: “Até a metade você vai
conseguir ler tranquilamente, mas depois é melhor ter uma garrafinha de água
junto contigo”. De fato, durante a leitura senti a secura da cachorrinha Baleia
e a apatia dos filhos de Fabiano dentro da boca, não deixando uma só gota de
saliva descer pela garganta. Só consegui chegar ao fim seguindo o conselho do
meu amigo.
Anos mais tarde, antes de visitar a
Bahia, decidi que precisava ler Gabriela, Cravo e Canela. Em menos de 50
páginas, já tinha absorvido a cadência do sotaque mesmo sem ouvi-lo, sentia
vontade de comer tapioca, acarajé, moqueca e de tomar uma(s) no bar do Nacib
como se estivesse na Ilhéus do início do século.
Os livros nos apresentam a lugares
que, mesmo quando reais, talvez nunca visitaremos, nos transportam para enredos
que não podemos mudar e nos deixam íntimos de personagens cujos sotaques,
hábitos, personalidades e aparências são adaptações de alguém, releituras de
várias pessoas coladas em um determinado tempo e espaço.
É essa junção de elementos que faz a obra
de Jorge Amado ser sinônimo de Bahia e a de Érico Veríssimo de Rio Grande do
Sul, é isso que faz a literatura ser um dos mais importantes símbolos para a
formação da identidade cultural de um lugar.
Pensando nisso, selecionamos os 27 autores
mais representativos de cada estado brasileiro. Nossa seleção se baseou em
número de prêmios ganhos, participações em Academia de Letras de suas
respectivas federações, cobrança nos vestibulares locais, número de traduções
para línguas estrangeiras e, é claro, se o autor é reconhecido por sintetizar a
identidade de cada estado − não sendo determinante seu local de nascimento.
Sudeste
– São Paulo: Mário de Andrade (Macunaíma, 1928)
– Espírito Santo: Rubem Braga (50 Crônicas Escolhidas, 1951)
– Rio de Janeiro: Machado de Assis (Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881)
– Minas Gerais: Guimarães Rosa (Grande Sertão Veredas, 1956)– Espírito Santo: Rubem Braga (50 Crônicas Escolhidas, 1951)
Sul
– Rio Grande do Sul: Érico Veríssimo (O Tempo e o Vento,
1949)
– Santa Catarina: Cruz e Sousa (Broquéis, 1893)
– Paraná: Dalton Trevisan (O Vampiro de Curitiba, 1965)
– Santa Catarina: Cruz e Sousa (Broquéis, 1893)
– Paraná: Dalton Trevisan (O Vampiro de Curitiba, 1965)
Centro-Oeste
– Mato Grosso do Sul: Miguel Jorge (Veias e Vinhos, 1981)
– Mato Grosso: Manoel de Barros (Livro sobre Nada, 1996)
– Mato Grosso: Manoel de Barros (Livro sobre Nada, 1996)
– Goiás: Cora Coralina (Poemas dos Becos de Goiás e estórias mais, 1965)
– Distrito Federal: Renato Russo (Faroeste Caboclo, 1987)
Nordeste
– Paraíba: Ariano Suassuna (O Auto da Compadecida, 1955)
– Pernambuco: Clarice Lispector (A Hora da Estrela, 1977)
– Ceará: Rachel de Queiroz (O Quinze, 1930)
– Alagoas: Graciliano Ramos (Vidas Secas, 1938)
– Piauí: Carlos Castello Branco (O Arco de Triunfo, 1959)
– Maranhão: Aluísio Azevedo (O Cortiço, 1890)
– Pernambuco: Clarice Lispector (A Hora da Estrela, 1977)
– Rio Grande do Norte: Madalena Antunes (Oiteiro – Memórias de uma sinhá-moça,
1958)
– Bahia: Jorge Amado (Gabriela Cravo e Canela, 1958)
– Sergipe: Vladimir Souza Carvalho (Feijão de Cego, 2009)– Ceará: Rachel de Queiroz (O Quinze, 1930)
– Alagoas: Graciliano Ramos (Vidas Secas, 1938)
– Piauí: Carlos Castello Branco (O Arco de Triunfo, 1959)
– Maranhão: Aluísio Azevedo (O Cortiço, 1890)
Norte
– Pará: Olga Savary (Sumidouro, 1977)
– Amazonas: Milton Hatoum (Dois Irmãos, 2002)
– Rondônia: Otávio Afonso (Cidade Morta, 1980)
– Tocantins: José Concesso (Meu Primeiro Picolé, 2004)
– Acre: Márcio Souza, (Galvez, Imperador do Acre, 1976)
– Amapá: Manoel Bispo Corrêa (Cristais das Horas, 1978)
– Roraima: Nenê Macaggi (Água Parada, 1933)
– Amazonas: Milton Hatoum (Dois Irmãos, 2002)
– Rondônia: Otávio Afonso (Cidade Morta, 1980)
– Tocantins: José Concesso (Meu Primeiro Picolé, 2004)
– Acre: Márcio Souza, (Galvez, Imperador do Acre, 1976)
– Amapá: Manoel Bispo Corrêa (Cristais das Horas, 1978)
– Roraima: Nenê Macaggi (Água Parada, 1933)
Nenhum comentário:
Postar um comentário