Gravura de Hélio
Ricardo Alves
O último frade-de-pedra que sobrou
das muitas dezenas colocadas nas esquinas das ruas estreitas e beiras de
calçada em Porto Alegre
foi encontrado por Nilo Ruschel, perto de casas modestas e à beira de um
pequeno banhado refletindo o marco de grés, sem referências e com explicações
contraditórias. Ari Veiga Sanhudo escreveu um conto em que um frade-de-pedra
conversava com o seu par do outro lado da rua. O remanescente do Nilo Ruschel
estava só, e se pudesse contar alguma coisa diria que na sua nobreza jamais
permitiu que nele fosse amarrado qualquer animal de montaria ou tração; até
advertia que estava protegido por lei, e quem o danificasse sofreria pena de
multa severa.
O frade-de-pedra era um marco feito
de arenito, com aproximadamente 1,30
m de altura, esculpido em oito faces, com uns 40 cm de diâmetro, e com uma
cúpula em cima, que vista de longe, parecia um chapéu de padre. Servia para
proteger as calçadas das manobras feitas por carroças e carretas nas ruas
estreitas. Muitos historiadores antigos confundiam o frade-de-pedra com o
palanque que, no interior, era chamado de “frade-de-cerne”* (este sim, para
amarrar rédeas).
Não havia como enganar-se, porque o
Código de Posturas Policiais punia com rigor quem atravancasse estradas de
ruas. Ora, nas esquinas da Rua dos Andradas havia, desde a Rua General Câmara
até a Rua Dr. Flores, quatro frade-de-pedra, um em cada ângulo. Como poderiam
os cavaleiros amarrar cavalos ou charretes numa esquina movimentada e estreita?
O solo de Porto Alegre é de
consistência granítica, e o arenito (grés) vinha dos rios Caí e Sinos, quando
havia estradas, em forma de blocos para serem esculpidos por um artesão
credenciado pela administração municipal, que respeitava o padrão estabelecido.
Para amarrar cavalos bastaria fazer um palanque cilíndrico de madeira ou
granito e sem escultura.
O frade-de-pedra surgiu quando se
promulgou uma lei (no início do século XIX) obrigando os proprietários de casas
a calçar o passeio fronteiro as suas propriedades, e desapareceu,
coincidentemente, quando a iluminação pública prosperou; o frade-de-pedra foi
pouco a pouco desaparecendo e dando lugar aos postes de luz, nas esquinas.
O último frade-de-pedra pode se visto
no jardim fronteiro ao Museu Joaquim José Felizardo, na Rua João Alfredo, onde
foi no passado o Solar Lopo Gonçalves.
*****
*Informação prestada pelo Dr.
Firmino Chagas Costa, de Júlio de Castilhos.
(Do livro “Porto
Alegre foi assim...”,
desenhos a nanquim de Hélio Ricardo Alves)
desenhos a nanquim de Hélio Ricardo Alves)
↑
Museu Joaquim José Felizardo e o frade-de-pedra
Frade-de-pedra decorativo defronte à Escola de Engenharia
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