sexta-feira, 17 de novembro de 2017

A Avó

Olavo Bilac


A avó, que tem oitenta anos,
está tão fraca e velhinha!...
Teve tantos desenganos!
Ficou branquinha, branquinha,
com os desgostos humanos.

Hoje, na sua cadeira,
repousa, pálida e fria,
depois de tanta canseira.
E cochila todo o dia,
e cochila a noite inteira.

Às vezes, porém, o bando
dos netos invade a sala...
Entram rindo e papagueando.
Este briga, aquele fala,
aquele dança, pulando...

A velha acorda, sorrindo,
e a alegria a transfigura.
Seu rosto fica mais lindo,
vendo tanta travessura,
e tanto barulho ouvindo.

Chama os netos adorados,
beija-os, e, tremulamente,
passa os dedos engelhados,
lentamente, lentamente,
por seus cabelos dourados.

Fica mais moça, e palpita,
e recupera a memória,
quando um dos netinhos grita:
“Ó vovó! conte uma história!
Conte uma história bonita!”

Então, com frases pausadas,
conta histórias de quimeras,
em que há palácios de fadas,
e feiticeiras, e feras,
e princesas encantadas...

E os netinhos estremecem,
os contos acompanhando,
e as travessuras esquecem,
até que, a fronte inclinando
sobre o seu colo, adormecem...

(Do livro “Poesias Infantis”)


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