sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Eu e Mamãe

Jansen Filho


Mamãe: você se recorda
de quando eu era menino
e saía sem destino
à procura de um brinquedo?...
Papai ficava escrevendo
e toda vez que eu saía
você sempre me dizia:
“Não demore! Volte cedo!”

E quando eu deixava a mesa,
ia em direção à sala,
escutava a sua fala:
“Meu relógio nunca atrasa!”
E para mim se voltando,
dizia, depois da ceia:
“O mais tardar, nove e meia,
você tem que estar em casa!”

Eu saía, como o vento,
correndo pelas calçadas,
brincando com os camaradas
sem presente e sem porvir!
Faltando cinco minutos,
a brincadeira acabava;
e, às nove e meia, eu voltava,
para rezar e dormir...

À beira da minha cama,
você, Mamãe, se sentava
e tranquila me ensinava
Pai-nosso... Ave-maria...
Depois lhe pedia a bênção,
pedia a papai também,
sem falar mais com ninguém,
fechava os olhos, dormia...

Fui crescendo! Fui crescendo!
E, quando mudei de idade,
acabou-se a liberdade
do menino independente!
Com a carta do ABC,
um lápis, uma sacola,
você me pôs numa escola,
− outro mundo diferente!

Mas um dia, a professora
me bateu!... Não sei por quê!
Minha carta do ABC
lhe atirei de encontro ao rosto!
E você, sabendo disso,
caiu prostrada em pranto!
Seu sofrimento foi tanto,
quase morri de desgosto!

Lá me fui para outra escola!
Aquela não me aceitava!
− Dona Faninha me odiava!
pobre velha sofredora!
Hoje, dou graças a Deus,
por algo ter aprendido
e vivo arrependido
do que fiz com a professora!

.............................................

Hoje, que o tempo passou
e eu acordei para a vida,
é que sei, Mamãe querida,
os erros que pratiquei!...
Você bem sabe, mamãe,
que eu fui um menino horrível
pela série indescritível
dos desgostos que lhe dei!

Ajoelho-me ante a distância,
para lhe pedir perdão
e dizer de coração:
“Seu filho se arrependeu!”
Arrependi-me, Mamãe,
de tudo ter praticado,
por isso odeio o passado,
Só porque você sofreu!...

Mas a mamãe carinhosa,
amiga fraterna e boa,
ama, padece, perdoa,
faz o que você me fez!
Se eu voltasse à minha infância,
seria feliz, porque
estou certo que você
me perdoaria outra vez!

(Do livro “Português 1ª Série Ginasial,
De Gilio Guacomozzi e Floriano Tescarolo)


Miguel Jansen Filho, nasceu no dia 1º de maio de 1925, na cidade de Monteiro, Estado da Paraíba e faleceu em São Paulo, no dia 18 de julho de 1994; filho de Miguel Jansen de Paiva Pinto e D. Maria Virgem de Paiva Pinto. Iniciou o curso primário em Monteiro, no Grupo Escolar Miguel Santa Cruz, concluindo no Colégio Olegário Barros, em Taubaté, São Paulo, cursando, também, aí, no secundário, formando-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito das Faculdades Metropolitanas Unidas de São Paulo.  A partir de 1943, Jansen Filho exerceu vários cargos públicos, entre os quais, destacamos: Encarregado da Estação de Meteorologia, da cidade de Monteiro; Fiscal da Comissão de Abastecimento da Cidade de Campina Grande; Diretor da Divisão da Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo do Estado de São Paulo; Adido ao Gabinete do Superintendente Regional do IAPAS para o Estado de São Paulo. Em Minas Gerais, foi produtor da Rádio Inconfidência de Belo Horizonte.

Jansen Filho começou a fazer versos, ainda criança, em Monteiro, influenciado pela presença dos violeiros e repentistas que frequentavam as feiras livres do interior. Deixando o sertão, estabeleceu-se no Rio de Janeiro e, lá, qual um trovador medieval, era convidado a declamar as suas poesias nas mais nobres residências da Cidade Maravilhosa, sendo aplaudido e admirado por todos. Recebeu o título de Cidadão Honorário da Cidade de São José dos Campos; Membro Benemérito da Academia de Letras da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, de São Paulo; Troféu da Academia Paraibana de Poesia, de João Pessoa; homenageado com a criação do Grêmio Literário Jansen Filho, do Lyceu Paraibano; Membro da Academia Joseense de Letras de São José dos Campos, entre outros títulos e honrarias.

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