sábado, 9 de dezembro de 2017

Hitchcock corpo presente

As aparições do mestre Alfred Hitchcock em seus filmes, se tornaram uma espécie de assinatura.


Alfred Hitchcock
(13.08.1899 – 20.04.1980)

Durante as filmagens de seu quarto filme, O Inquilino Sinistro (The Lodger), rodado na Inglaterra em 1926, Hitchcock descobriu, de repente, que precisava aumentar a figuração de uma cena. Sem tempo para contratar um extra, ele próprio sentou-se à mesa de uma redação de jornal, fingindo-se de repórter. Três anos e oito filmes depois, voltou a aparecer rapidamente numa cena de Chantagem e Confissão (Blackmail), lendo jornal no metrô, ao lado de um garoto irrequieto. Foi aí que tomou gosto pela brincadeira, transformando suas fugazes aparições numa espécie de assinatura, de marca registrada, cuidadosamente programadas para as primeiras cenas, a fim de evitar que os espectadores se distraíssem durante a projeção, à espera de sua passagem diante da câmera.

Hitchcock passa por uma rua em Assassinato (Murder, 1930). Os 39 degraus, Festim Diabólico (Rope, 1948), Um Corpo que Cai e Intriga Internacional. Faz um fotógrafo desajeitado em Jovem e Inocente (Young and Innocent, 1937). Desfila por uma estação de trem em A Dama Oculta (The Lady Vanishes, 1938) e atrás de uma cabine de telefone em Rebeca, a Mulher Inesquecível. É visto jogando bridge num trem em A Sombra de uma Dúvida, saindo de um elevador em Quando Fala o Coração, bebendo champanhe em Interlúdio, ouvindo um discurso em Sob o Signo de Capricórnio (Under Crapicorn, 1949) e carregando um violoncelo em Agonia de Amor (The Paradine Case, 1947) e um contrabaixo em Pacto Sinistro.

Em Tortura do Silêncio (I Confess, 1952), ele cruza o alto de uma escada no Quebec, e em Janela Indiscreta dá corda num relógio. Surge sentado num ônibus da Côte d´Azur, ao lado de Cary Grant, em Ladrão de Casaca (To Catch a Thief, 1955), apreciando acrobatas marroquinos em O Homem que Sabia Demais (1956), parado numa calçada (com um chapéu de caubói) em Psicose (1960), passeando com dois cachorrinhos em Os Pássaros (The Birds, 1963), perambulando pelo corredor de um hotel em Marnie, com bebê no colo em Cortina Rasgada (Torn Curtain, 1966), numa cadeira de rodas em Topázio e misturado aos circunstantes à beira do Tâmisa na abertura de Frenesi. Em seu último filme, Relíquia Macabra (Family Plot), 1976), é apenas uma silhueta, atrás de um vidro fosco de um cartório.

Por duas vezes apareceu apenas em fotografia: de uma festa de formatura, em Disque M para Matar (Dial M for Murder, 1954), e no anúncio de um remédio para emagrecimento, em Um Barco e Nove Destinos (Lifeboat, 1943).*

Sérgio Augusto em “Fantástico – O show da vida em revista”

* Sobre o filme “Um Barco e Nove Destinos” há um detalhe interessante. O diretor queria aparecer no filme, como sempre, mas como fazer isso num barco com apenas nove pessoas? Alguém, talvez ele mesmo, teve a ideia: Um dos nove lia um jornal onde aparecia um anúncio de remédio para emagrecer. Era do tipo: “Eu era assim e fiquei assim”. Eram duas fotos, mas a da frase “Eu era assim” tinha a foto de Hitckcock.

                                                               (Clarival Vilaça)

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