quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

O Soneto e a Sátira

 Benedicite!

Olavo Bilac

Bendito o que, na terra, o fogo fez, e o tecto;
E o que uniu a charrua ao boi paciente e amigo;
E o que encontrou a enxada; e o que, do chão abjeto,
Fez, aos beijos do sol, o ouro brotar do trigo;

E o que o ferro forjou; e o piedoso arquiteto
Que ideou, depois do berço e do lar, o jazigo;
E o que os fios urdiu; e o que achou o alfabeto;
E o que deu uma esmola ao primeiro mendigo;

E o que soltou ao mar a quilha, e ao vento o pano;
E o que inventou o canto; e o que criou a lira;
E o que domou o raio; e o que alçou o aeroplano...

Mas bendito, entre os mais, o que, no dó profundo,
Descobriu a Esperança, a divina mentira,
Dando ao homem o dom de suportar o mundo!

Maledicite!*

Carlos Henrique da Rocha Lima e Klecius Caldas

Maldito o que inventou da terrível geometria
As complicadas Leis e o pérfido teorema!
Maldito aquele que, num malfadado dia,
Resolveu sobre a terra o primeiro problema!

Maldito seja o pai, a mãe, a avó, a tia
E toda a geração de quem só tem um lema:
Ensinar no colégio as Leis da simetria,
E os anos vão passando e é sempre o mesmo esquema.

Malditos sede vós, terríveis algarismos,
Que sois o mais cruel de todos os abismos,
Que o aluno espezinhais, aos bandos, aos enxames...

Mas maldito entre os mais o professor esguio,
Fantasma de Platão, altivo, grave, frio,
Que os prepara em fileira, aguardando os exames.


*Soneto satírico feito para o professor de Matemática Cecil Thiré, do Colégio “de” Pedro II.


(Do livro “Pelas Esquinas do Rio – Tempos Idos e Jamais Esquecidos”,
de Klecius Caldas)

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