Charge de Jaguar
Sobre o
parlamentarismo do império,
versejou o padre
Correia de Almeida:
A DANÇA DOS PARTIDOS
Os dous estragadíssimos partidos
Ocupam a seu turno a governança;
E nós imos vivendo da esperança
De ver os nossos males
combatidos.
Os quinhões são de novo
repartidos,
Toda vez que se dá qualquer
mudança,
Se aquele outrora encheu, este
enche a pança
E os clamores do povo são
latidos.
Se as velhas leis têm sido
violadas,
Estando nossas crenças abaladas,
Novas leis não darão melhores normas.
Palavras eu não sei se adubam
sopa,
Mas a fala do trono é que não
poupa
Reformas e reformas e reformas.
Sobre iguais vícios
na república, versejou o pernambucano Bastos Tigre:
REFORMA DO ENSINO
Mal o Congresso arranja uma
reforma
Da Instrução malsinada e
miseranda,
Outra já se prepara; e desta
forma
Ela de Herodes a Pilatos anda.
Da mania reinante segue a norma
(Pois que da glória os píncaros
demanda)
E de um grande projeto o esboço
forma
O fecundo doutor Passos Miranda.
A nova lei ordena que os
pequenos
Trilhem com aplicação e com
cuidado
Seis anos de científicos
terrenos.
Um parágrafo seja acrescentado:
- O saber ler é
obrigatório; a menos
Que o rapaz se destine a
deputado...
Sobre a (sempre)
mesma república, versejou o mesmo Bastos Tigre:
ESTA REPÚBLICA
É certo que a República vai
torta;
Ninguém nega a duríssima verdade.
Da pátria o seio a corrupção
invade
E a lei, de há muito tempo, é
letra morta.
A quem sinta altivez, força e
vontade
Ficou trancada do Poder a porta:
Mas felizmente a vida nos
conforta
De esperança, uma dúbia
claridade.
Porque (ninguém se iluda),
"isto" que assim
A pobre Pátria fere, ultraja e
explora,
Jamais o sonho foi de Benjamin.
Os motivos do mal não são
mistério:
- É que a gentinha que
governa agora
É o rebotalho que sobrou do
Império.
Sobre as composições
políticas, versejou o jornalista baiano
Aloísio de Carvalho:
Aloísio de Carvalho:
ADESÃO
Eu adiro, tu aderes, ele adere.
Todos nós aderimos prontamente,
A questão é ficar comodamente,
Sem perder os proventos que se
aufere.
O que se fez, 'stá feito.
Derramar
Sangue, por causa disto, é
insensatez,
Desde que, pra mostrarmos
altivez,
Basta a prosa da sala do jantar.
Quem tem mulher e filhos, meu
amigo,
Não ser prejudicado ao mais
prefere.
Vir pra rua brigar - não
é consigo;
Em conflitos assim não interfere;
Por isso, nos momentos de perigo,
Eu adiro, tu aderes, ele adere.
Sobre novas e velhas
demagogias, versejou o paulista Lisindo Coppoli:
SOCIOLOGIA
Resolvido a lutar contra a
indigência,
Hoje, cheio de nobres intenções,
Cuida o governo das populações
SESC, SENAI, seguro, previdência
E muitas outras boas
instituições
São, em nosso país, inovações
Que ao povo suavizam a
existência.
Nada disso existia antigamente;
O pobre era animal desprotegido:
Trabalhava e comia, unicamente.
Hoje em dia é outra coisa! Não
se come.
Mas existe o sociólogo incumbido
De estudar e medir a nossa fome.
Sobre a carreira
política, versejou o "rouxinol mineiro" Belmiro Braga:
Propaganda Eleitoral
Meu caro Coronel Martins
Ferreira,
Candidato extrachapa a deputado
Ao congresso da Câmara Mineira,
Desejo ser aí o mais votado.
A minha fé de ofício é de
primeira.
Vale por um programa o meu
passado,
E no congresso não direi asneira
Todas as vezes... que ficar
calado.
Fui caixeiro, depois fui
negociante,
E do torrão natal,
representante,
Agora aspiro a ser como
escrivão;
E, eleito, espero, mas que
maravilha!
Ser pai da Pátria e receber da
filha
Todo o subsídio, quer trabalhe
ou não...
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