quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Poemas Políticos



Charge de Jaguar

Sobre o parlamentarismo do império,
versejou o padre Correia de Almeida:

A DANÇA DOS PARTIDOS

Os dous estragadíssimos partidos
Ocupam a seu turno a governança;
E nós imos vivendo da esperança
De ver os nossos males combatidos.

Os quinhões são de novo repartidos,
Toda vez que se dá qualquer mudança,
Se aquele outrora encheu, este enche a pança
E os clamores do povo são latidos.

Se as velhas leis têm sido violadas,
Estando nossas crenças abaladas,
Novas leis não darão melhores normas.

Palavras eu não sei se adubam sopa,
Mas a fala do trono é que não poupa
Reformas e reformas e reformas.

Sobre iguais vícios na república, versejou o pernambucano Bastos Tigre:

REFORMA DO ENSINO

Mal o Congresso arranja uma reforma
Da Instrução malsinada e miseranda,
Outra já se prepara; e desta forma
Ela de Herodes a Pilatos anda.

Da mania reinante segue a norma
(Pois que da glória os píncaros demanda)
E de um grande projeto o esboço forma
O fecundo doutor Passos Miranda.

A nova lei ordena que os pequenos
Trilhem com aplicação e com cuidado
Seis anos de científicos terrenos.

Um parágrafo seja acrescentado:
- O saber ler é obrigatório; a menos
Que o rapaz se destine a deputado...

Sobre a (sempre) mesma república, versejou o mesmo Bastos Tigre:

ESTA REPÚBLICA

É certo que a República vai torta;
Ninguém nega a duríssima verdade.
Da pátria o seio a corrupção invade
E a lei, de há muito tempo, é letra morta.

A quem sinta altivez, força e vontade
Ficou trancada do Poder a porta:
Mas felizmente a vida nos conforta
De esperança, uma dúbia claridade.

Porque (ninguém se iluda), "isto" que assim
A pobre Pátria fere, ultraja e explora,
Jamais o sonho foi de Benjamin.

Os motivos do mal não são mistério:
- É que a gentinha que governa agora
É o rebotalho que sobrou do Império.

Sobre as composições políticas, versejou o jornalista baiano
 Aloísio de Carvalho:

ADESÃO

Eu adiro, tu aderes, ele adere.
Todos nós aderimos prontamente,
A questão é ficar comodamente,
Sem perder os proventos que se aufere.

O que se fez, 'stá feito. Derramar
Sangue, por causa disto, é insensatez,
Desde que, pra mostrarmos altivez,
Basta a prosa da sala do jantar.

Quem tem mulher e filhos, meu amigo,
Não ser prejudicado ao mais prefere.
Vir pra rua brigar - não é consigo;

Em conflitos assim não interfere;
Por isso, nos momentos de perigo,
Eu adiro, tu aderes, ele adere.

Sobre novas e velhas demagogias, versejou o paulista Lisindo Coppoli:

SOCIOLOGIA

Resolvido a lutar contra a indigência,
Hoje, cheio de nobres intenções,
Cuida o governo das populações
Com a sociologia, a nova ciência.

SESC, SENAI, seguro, previdência
E muitas outras boas instituições
São, em nosso país, inovações
Que ao povo suavizam a existência.

Nada disso existia antigamente;
O pobre era animal desprotegido:
Trabalhava e comia, unicamente.

Hoje em dia é outra coisa! Não se come.
Mas existe o sociólogo incumbido
De estudar e medir a nossa fome.

Sobre a carreira política, versejou o "rouxinol mineiro" Belmiro Braga:

Propaganda Eleitoral

Meu caro Coronel Martins Ferreira,
Candidato extrachapa a deputado
Ao congresso da Câmara Mineira,
Desejo ser aí o mais votado.

A minha fé de ofício é de primeira.
Vale por um programa o meu passado,
E no congresso não direi asneira
Todas as vezes... que ficar calado.

Fui caixeiro, depois fui negociante,
E do torrão natal, representante,
Agora aspiro a ser como escrivão;

E, eleito, espero, mas que maravilha!
Ser pai da Pátria e receber da filha
Todo o subsídio, quer trabalhe ou não...



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