sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

A Flor do Maracujá



Catulo da Paixão Cearense
  
Encontrando-me com um sertanejo,
Perto de um pé de maracujá,
Eu lhe perguntei:
− Diga-me, caro sertanejo,
Por que razão nasce roxa
A flor do maracujá?

− Ah, pois, intão eu lhe conto
A história que ouvi contá,
A razão pro que nasce roxa
A flor do maracujá.

Maracujá já foi branco,
Eu posso inté lhe ajurá,
Mais branco que a caridade,
Mais brando do que o luá.

Quando as flô brotava nele,
Lá pros confim do sertão,
Maracujá parecia
Um ninho de argodão.

Mas um dia, há muito tempo,
Num mês que inté não me alembro
Se foi maio, se foi junho...
Se foi janeiro ou dezembro...

Nosso Sinhô Jesus Cristo
Foi condenado a morrer
Numa cruz, crucificado!
Longe daqui como o quê.

Pregaram o Cristo a martelo,
E, ao ver tamanha crueza,
A natureza inteirinha,
Pois se a chorar de tristeza.

Chorava os campo,
As foia, as ribeira,
Sabiá também chorava
Nos gaio da laranjeira.

E havia, junto da cruz,
Um pé de maracujá,
Carregadinho de flô!
Aos pés de Nosso Sinhô.

E o sangue de Jesus Cristo
Sangue pisado de dô
Nos pé do maracujá
Tingia todas as flô.

Eis aqui, seu moço,
A história que ouvi contá
A razão pro que nasce roxa
A flor do maracujá!


Catulo da Paixão Cearense (São Luís, Maranhão, 8 de outubro de 1863Rio de Janeiro, 10 de maio de 1946) foi um poeta, músico e compositor brasileiro. A data de nascimento foi por muito tempo considerada dia 31 de janeiro de 1866, pois a data original fora modificada para que Catulo pudesse ser nomeado ao serviço público.

Este poema poder ser ouvido na, internet, nas vozes de Rolando Boldrin e José Márcio Castro Alves.


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