quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

A imprensa noticia um crime no Acre



Plácido de Castro

Rio, 16 – Ultimamente, como em tempo noticiei, era intensa a agitação dos espiritos no Acre. Grupos pertencentes ás duas facções que ali predominam armaram conflictos, julgando certa a deposição do coronel Gabino Bezouro, com quem trocou varias cartas o coronel Placido de Castro. Serenados os animos, em 1º de agosto, o coronel Placido de Castro seguiu para Xurupy, renovando-se então os boatos de deposição. A calma que se notava era apenas aparente.

No dia 8 do corrente o coronel Placido, em companhia de quatro amigos a cavallo, seguiu para o seu seringal, em Catapara, quando uma descarga, partida da matta, o feriu no baixo ventre e nas costellas. Apezar de ferido, Placido de Castro avançou para o ponto donde partira a descarga, e então novos tiros o alvejaram. Sentindo que perdia as forças desceu elle do animal, sendo carregado em braços, pelos seus amigos, para a sua residencia, que fica proxima ao local em que se deu o facto. Chegando á casa, Placido de Castro mandou logo chamar um tabellião, fazendo testamento, pelo qual lega a terça de seus bens á sua mãe e o restante de sua fortuna a seus irmãos. No seu testamento, declarou elle que morria victima de uma emboscada. O coronel Placido de Castro falleceu no dia do corrente, ás 4 horas da tarde. O coronel Gabino Bezouro, prefeito do Acre, mandou abrir inquerito sobre o facto.

A grafia de época está preservada no texto acima.
  
(Correio do Povo de 16 de setembro de 1908 e 17 de setembro de 2008)


Plácido de Castro* em sua fazenda no Acre.

*José Plácido de Castro (São Gabriel, RS, 9 de setembro de 1873Seringal Benfica, AC, 11 de agosto de 1908) foi um político, militar idealista brasileiro, líder da Revolução Acreana e que governou o Estado Independente do Acre.


Túmulo de Plácido e Castro, Cemitério da Santa Casa,
em Porto Alegre.

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