segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Mãe do presidiário



Mãe, querida mãe, hoje das mães é dia,
dou-te tristezas, mato-te a alegria,
pois estou te vendo através duma prisão.
Se morresse pequenino, ao ter nascido,
Certamente, não estaria, assim, ferido
o teu materno e puro coração.

Mãe, eu fui ingrato e hoje reconheço,
que nem sequer o teu perdão mereço,
pois tanto... tanto mal eu te causei.
Por fim abandonei-te já envelhecida,
por qualquer mundana pervertida,
que na estrada do mal eu encontrei.

Lembra-me, ainda, daquela noite triste,
que eu não saísse, chorando me pediste,
como se algo estivesse a acontecer,
e eu não quis ouvir o teu lamento,
louco com a mundana em pensamento,
parti, querida mãe, para nunca mais te ver...

Foi nessa mesma noite, fria e calma,
que saí, após te torturar a alma,
com outro homem a mundana encontrei.
Aproximei-me dela mais um pouco,
como fera acuada, e quase louco,
sem dó nem piedade, eu a matei.

Então, querida mãe, começou o meu castigo,
por não ouvir o teu sábio conselho amigo,
fui preso e maltratado como um cão,
e, aqui, pago a desobediência,
e tua ausência a torturar-me o coração.

Mas, a maior desgraça que me bate à porta,
é não saber se ainda és viva ou morta,
pois até hoje nunca mais te vi.
E tu, talvez, eu nunca mais te veja,
para poder pedir perdão a ti...

A um canto da cela eu adormeci chorando,
Quando, em sonho, uma voz ouço chamando,
volvendo o olhar, vejo celestial visão:
é minha mãe, transpondo aquela dura porta,
fala-me sorrindo: “filho, eu já estou morta,
mas vim aqui trazer-te o meu coração!
para poder a ti deixar o meu perdão...

Israel de Castro,
poeta pernambucano.

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