Millôr Fernandes
Escovou
os dentes com Dentifrício Molgado, uma sensação extra de frescor, aquele que
faz seu sorriso mais belo e evita a cárie e outras afecções dentárias. (À base
de fluorina e clorofila).
Fez
a barba com creme Vital, que amacia a pele e torna a barba um prazer. Usou para
escanhoar-se a lâmina Babette (importada), uma verdadeira carícia para o rosto.
Ao terminar, passou na cara Água Nelma, refrescante, perfumada e adstringente.
Tomou banho com sabonete Sissy, que é mais que um simples sabonete, é quase um
convite à efeminação, um odor que deixa saudade. Usou no corpo Talco Floss, que
torna a pele suave como a de um bebê. Pôs no cabelo Loção Vital, que dá um
brilho novo à sua cabeleira, tirando-lhe aquele ar desmazelado, que tanto
desagrada às mulheres.
Aspergiu
nas axilas algumas gotas de Maguy, o desodorante que tem a fragrância das rosas
de maio.
Pingou
na vista Colírio Santol e, em pouco, seus olhos estavam claros e transparentes,
prontos a ver o mundo com outro aspecto.
Vestiu
um terno de casimira Marroquim, a mais leve, a mais elegante, de durabilidade
sem par.
Depois
de completamente vestido pingou na lapela duas gotas de Mustafá, o perfume do
passado para o homem do futuro.
Foi saindo e colocando no
pulso seu relógio inoxidável, de duração eterna.
Ao atravessar a rua foi morto
por um ônibus elétrico.
Desilusão total
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