quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Um fato inusitado do Pan-Americano de 1956


O massagista Moura


Na foto acima, o time campeão do Pan-Americano de 1956, no México, representados por atletas gaúchos: Em pé, da esquerda para a direita: Sérgio (G), Oreco (I). Florindo (I), Odorico (I), Ênio Rodrigues (G) e Duarte (P). Agachados, na mesma ordem:  Luisinho (I), Bodinho (I), Larry (I), Ênio Andrade (R) Raul Klein (F), Biscardi (G), massagista e Moura (I), massagista.

(G) atletas do Grêmio; (I) atletas do Internacional; (P) Pelotas. (R) Renner e (F) Floriano.

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Moura, como braço-esquerdo de Teté, foi o protagonista do episódio mais antológico e pitoresco de todo o Pan-americano de 1956, no México. O Brasil jogava contra o Peru que, à época, tinha um ataque fenomenal: Moschera, Félix Castillo, Draco, era um timaço que disputava cada jogada palmo a palmo do campo. Depois do gol de Larry, aos vinte do primeiro tempo, a pressão peruana se tornava sufocante. Castillo, driblador e veloz, batia Duarte com facilidade a cada ataque. Qualquer descuido do lateral brasileiro poderia ser fatal.

Em determinado lance, pelo fundo do campo, Odorico acabou se lesionado, e ficou estirado na linha de fundo, sendo atendido por Moura, com sua maleta de madeira. Foi quando tudo aconteceu: enquanto verificava as condições do meio-campista colorado, o massagista sentiu a inexorável aproximação de Félix, que dribla Duarte, depois Ênio Rodrigues e corre sozinho pela linha de fundo com a bola, pronto para fuzilar Sérgio Moacir. Moura não pensa duas vezes, e atirando a pesada maleta aos pés do ponta peruano, fazendo o atleta cair estrepitosamente no gramado.


Moura contido pelo bandeirinha

- Foi uma coisa, queriam prender o Moura − lembra Larry. − Foi uma coisa horrível, os jogadores do Peru queriam matar ele, e nós tivemos que entrar no bolo para afastar. Foi uma coisa terrível!

Já Florindo entende que a atitude do massagista foi mais do que fundamental:

- Foi um bafafá, expulsaram o Moura, e ele, naquele instante, ele teve uma coisa que eu posso dizer o seguinte: se não fosse ele, o jogador da Peru iria fazer o gol.

Na final, contra a temida Argentina, Chinesinho fez 1 a 0, e Yaudica empatou, no primeiro tempo. Aos 13 minutos do segundo, de falta, Ênio Andrade fez 2 a 1. Cinco minutos antes do fim, Sívori empatou. Como o resultado garantia o título, os gaúchos só tocaram a bola até a festa. O time campeão teve Valdir; Florindo e Figueiró (Duarte); Odorico, Oreco e Ênio Rodrigues; Luisinho, Bodinho, Larry, Ênio Andrade e Chinesinho.

Na volta, Porto Alegre parou para receber os campeões. Simbolicamente ou não, a epopeia gaúcha com a camisa amarela da Seleção, além de calar os céticos, de certa forma também abriu caminho para que o Brasil amealhasse o seu primeiro título mundial, dois anos depois (1958).


Florindo, já campeão, 
sai de campo abraçado pelo massagista Moura.



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