Perguntas e respostas sobre o uso de medicamentos
Por Camila Kosachenco
→ Esquecer-se de tomar o
medicamento na hora indicada pelo médico, comprar comprimido de dose maior para
parti-lo ao meio ou guardar os remédios no banheiro de casa são comportamentos
comuns de boa parte dos pacientes. Embora rotineiras, essas atitudes merecem um
cuidado especial, pois podem comprometer a eficácia das drogas, prejudicando o
tratamento. Aqui reunimos as dúvidas mais comuns na hora de comprar, administrar
e armazenar medicamentos e as esclarecemos junto a especialistas. Mas
lembre-se: antes de tomar qualquer fármaco, peça orientações para um médico ou
para o farmacêutico e nunca se automedique.
Cuidado com automedicação
→ Nunca tome um medicamento usado
por terceiros ou mesmo que tenha sido receitado para você em outra situação.
“Nenhum medicamento sem prescrição pode ser usado em casa, os dados de
automedicação são alarmantes no Brasil e no mundo.” Nelci Dias, enfermeira e
conselheira do Conselho Regional de Enfermagem.
Quais medicamentos dá para ter em casa?
→ Embora a automedicação seja
fortemente reprovada pelos profissionais da saúde, medicamentos de venda livre
podem compor uma farmacinha caseira. Leila Beltrame Moreira, coordenadora da
Comissão de Medicamentos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, cita
analgésicos, anitérmicos, antiácidos e dipirona – se a pessoa não for alérgica
à substância – como itens que podem ser armazenados em casa.
− Esses medicamentos não vão
curar um problema patológico, vão aliviar os sintomas. Mas se você tomou a dose
indicada e não teve alívio, deve procurar um serviço de saúde – recomenda.
− Vale lembrar que cautela é
sempre a melhor orientação.
− São drogas relativamente seguras,
com particularidades de paciente para paciente. Para uso esporádico, não tem
problema – completa Leonardo Fernandez, chefe do Serviço de Emergência da Santa
Casa de Porto Alegre.
Qual a diferença entre comprimido, drágea e cápsula?
→ Comprimidos são obtidos, como o
próprio nome diz, por meio da compressão de um pó. Todo o ar presente entre as
partículas é retirado, resultando em um produto sólido. A digestão do
medicamento começa já no estômago. As versões sublinguais são elaboradas para
se dissolver com a saliva, para que os princípios ativos sejam absorvidos pela
mucosa bucal, passando diretamente para a corrente sanguínea, acelerando seu
efeito.
− Drágeas são comprimidos
revestidos com açúcar ou algum polímero derivado da celulose. Essa cobertura
serve para proteger a substância ativa do ar, da luz e da umidade, além de
retardar a digestão do fármaco.
− Em algumas situações, o
revestimento é necessário para que a liberação ocorra somente no intestino –
explica a professora Denise Milão, do curso de Farmácia da Escola de Ciências
da Saúde da PUCRS.
− Já as cápsulas contêm o fármaco
envolto em um revestimento de gelatina – a mesma que você come −, que pode ou
não receber pigmentos. Essa “embalagem” serve para preservar o medicamento do
ar, da umidade e da luz. Há no mercado das farmácias de manipulação cápsulas
com revestimento de polímeros vegetais, opção para pessoas veganas – aquelas
que não consomem nada de origem animal. Independentemente do revestimento, as
cápsulas são digeridas no estômago.
Dá para cortar um comprimido?
→ Não. Nenhum comprimido deve ser
partido, principalmente se for revestido. Isso porque essa camada serve tanto
para proteger do ambiente externo quanto para evitar a degradação da substância
ativa. Além disso, esse tipo de manipulação altera a dosagem.
− Às vezes, as pessoas compram
uma dosagem de 40mg, por exemplo, porque é mais em conta do que a de 20mg. Mas
o barato pode sair caro, pois o medicamento não vai controlar a doença. Estudos
já mostraram que, mesmo usando equipamentos de corte, há diferença na dosagem
de cada metade. Antes de cortar, é importante consultar o médico – diz a
farmacêutica Denise Milão.
− Dividir os medicamentos de
liberação prolongada – que liberam a substância ativa ao longo de um período
maior – pode ser ainda mais arriscado, pois se corre o risco de ingerir uma
dose muito maior do que a correta.
− A regra vale também para
medicamentos que já vêm com um vinco, pois eles sofrem perdas igualmente em
função do esfarelamento.
Dá para abrir cápsulas?
→ Não. A parte externa serve como
uma proteção para a substância ativa. Se você tem dificuldade de ingerir esse
tipo de medicamento, converse com médico para avaliar opções.
Há combinações de drogas que devemos evitar?
→ Quem toma muitas drogas deve
pedir auxílio para o médico na hora de administrar as doses. Segundo o médico
Leonardo Fernandez, medicamentos para diabetes, colesterol e hipertensão
geralmente toleram-se entre si. Mesmo assim, é preciso conversar com o médico
antes de tomar. O que merece cuidado especial é a combinação de sulfato ferroso
com antiácido ou antibióticos com antiácidos, alerta Leila. Se for o caso, dê
um intervalo de duas horas entre um e outro.
− Fernandez alerta para os riscos
da chamada polifarmácia em idosos, que é a grande lista de medicamentos
prescritos.
− Eles acabam tendo muitos
médicos e cada um dá seu medicamento. Não é incomum o idoso estar usando 18
drogas, e muitas vezes nem lembra. A interação é um risco, pois eles têm as
funções renal, pulmonar, cardíaca e hepática menor – destaca Fernandez,
acrescentando que a solução para diminuir essa realidade seria ter um médico
para gerenciar toda a saúde do paciente.
Bebida alcoólica interfere nos medicamentos?
→ Fernandez afirma que o álcool
pode interferir na ação dos medicamentos que, assim como as bebidas, são
metabolizadas no fígado. No caso dos antibióticos, é melhor esquecer os
drinques.
− O problema é o abuso, pois o
álcool aumenta e eliminação dos antibióticos. É preciso manter no sangue uma
determinada concentração do medicamento em um intervalo de tempo, e o álcool
acelera essa eliminação. Caindo essa concentração, diminui a eficácia –
exemplifica a médica Leila Moreira.
− A combinação pode potencializar
os efeitos de alguns medicamentos. É o que acontece com certos antialérgicos e
ansiolíticos, por exemplo – diz a presidente do Conselho Regional de Farmácia
do RS, Silvana Furquim.
Antibiótico diminui o efeito dos anticoncepcionais?
→ Conforme a médica Leila
Moreira, algumas substâncias alteram as bactérias do intestino que são
importantes para o efeito desejado dos anticoncepcionais.
− Mulheres em idade fértil devem cuidar esse casos – avisa a
médica.
→ Ampicilina e amoxicilina são algumas das drogas que pode
causar alterações.
É melhor tomar o medicamento em jejum ou com as
refeições?
→ Essa orientação deve ser dada
pelo médico e pode ser reforçada pelo farmacêutico na hora da compra, pois
varia de acordo com a substância.
− Algumas medicações têm a
absorção prejudicada pelos alimentos, e outras podem causar irritação gástrica
se tomadas em jejum – observa o médico Leonardo Fernandez.
− Sulfato ferroso e antibióticos,
por exemplo, funcionam melhor quando ingeridos com a barriga cheia. Se a recomendação
for tomar a droga em jejum, deve-se dar um intervalo de uma hora entre o
medicamento e a refeição ou duas horas após se alimentar.
Só posso tomar com água?
→ Depende da droga. A maioria pode ser ingerida com água ou
leite.
− Na dúvida, tome com água –
sugere a médica Leila Moreira. Vale perguntar ao médico ou ao farmacêutico,
pois, em alguns casos, o leite pode fazer com que o medicamento não seja
absorvido adequadamente.
Existe horário recomendado?
→ Via de regra, não há melhor
horário para ingerir medicamentos. O importante é manter a regularidade –
especialmente na ingestão de antibióticos, que deve respeitar o intervalo de
tempo estipulado pelo médico, sob pena de perder a eficácia caso haja atrasos.
Há alguns tipos específicos de drogas para colesterol e úlcera que funcionam
melhor à noite.
Em caso de esquecimento, o que fazer?
→ Volta-se a tomar a substância assim que lembrar. Mas nunca
dobre a dose.
Onde guardar medicamentos?
→ Deve-se mantê-los longe do
calor, da umidade e da luz, ou seja, jamais deixe no carro ou no banheiro.
Denise orienta que eles sejam guardados dentro de suas respectivas caixas com a
bula. Outro ponto importante é retirá-los do invólucro de alumínio somente na
hora da ingestão.
− Quem faz uso de muitas substâncias
e costuma utilizar embalagens fracionadas com todas juntas deve ficar atento à
higiene do suporte.
− O ideal é que se organize esses
medicamentos para, no máximo, uma semana. Quando se retira o medicamento do
invólucro, ele perde estabilidade. O prazo de validade escrito na caixinha diz
respeito àquela embalagem. Ao modificá-la, modifica-se também o medicamento –
alerta Denise Milão, professora de Farmácia da PUCRS.
Como descartar medicamentos?
→ Nunca jogue medicamento em
desuso ou vencidos no lixo comum, na pia ou no vaso sanitário, pois eles são
resíduos químicos poluentes do meio ambiente. As farmácias disponibilizam
coletores específicos para isso.
− Os estabelecimentos que não têm
coletores recebem esses medicamentos e encaminham para o descarte adequado.
Converse com seu farmacêutico e verifique a melhor alternativa – recomenda
Silva Furquim.
(Do Caderno Vida, de Zero Hora. fevereiro de
2018)
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