Foto de Evandro Rodrigues por Mauro Akin
Nassor
Baianidade Nagô
Evandro Rodrigues
Já pintou verão, calor no
coração
A festa vai começar.
Salvador se agita numa só
alegria,
Eternos Dodô e Osmar.
Na avenida Sete,
Da paz eu sou tiete,
Na barra o farol a brilhar.
Carnaval na Bahia,
Oitava maravilha,
Nunca irei te deixar, meu amor.
Eu vou atrás do trio elétrico,
vou.
Dançar ao negro toque do agogô,
Curtindo minha baianidade nagô,
ô-ô-ô-ô.
Eu queria que essa fantasia
fosse eterna,
Quem sabe um dia a paz vence a
guerra
E viver será só festejar.
E, ô, e, ô, e, ô.
Texto abaixo de Cecília Emiliana
→ “Você já foi à Bahia, nega?
Então, vá!”, aconselha Dorival Caimmy em uma de suas mais famosas canções. Mas
não é só a multidão de turistas que a cada ano passa pelo mais famoso estado
nordestino que vive uma experiência de “baianidade”.
→ Para curtir a viagem de outra
maneira, sem sequer cruzar as fronteiras da própria cidade, basta esperar o
Carnaval, correr atrás do trio elétrico e aguardar um momento certeiro: aquele
em que os artistas que comandam o bloco vão tocar Baianidade nagô, clássico da
axé music cujo refrão está na boca de nove entre 10 foliões – “Eu vou atrás do
trio elétrico, vou/Dançar ao negro toque do agogô/Curtindo minha baianidade
nagô, ô-ô-ô-ô”.
→ A música capaz de unir
carnavalescos de todo país numa só vibração de “ô-ô-ô-ô” foi composta pelo
baiano Evandro Rodrigues há 25 anos. Gravado pela primeira vez pela Banda Mel
em 1992, o hit figura ainda em álbuns de estrelas como Daniela Mercury, Netinho,
Ricardo Chaves, entre outras da mesma grandeza.
→ Na voz de Ivete Sangalo, a
canção ganhou, em 2013, durante o Festival de Verão de Salvador, uma de suas
versões mais apreciadas, em voz e violão. Mas pode ser encontrada até mesmo em
set-lists mais inusitados, como o da Orquestra Popular da Bahia.
→ “Acho que Baianidade é como uma
redação nota mil do Enem. Sei lá como, mas acho que consegui resumir, nos
versos dela, o que é o Carnaval da Bahia e o que é, de certa maneira, ser
baiano”, afirma Evandro Rodrigues. Formado em contabilidade, ele resume sua
vida em antes e depois da composição. “Minha vida mudou completamente. Na época
em que a canção estourou, eu ainda estava na faculdade, mas, depois disso, me
voltei completamente para a música. Até hoje, vivo principalmente disso, dos
direitos autorais que ela rende. Baianidade Nagô me permitiu ajudar
financeiramente minha mãe e muitos familiares. Me fez um cara muito feliz!”,
comenta, sem, no entanto, revelar quanto a criação lhe rende.
→ O compositor tinha apenas 21
anos quando lançou o sucesso que, no Carnaval de 1992 reinou absoluto nas
rádios do país inteiro e, 25 carnavais depois, ainda não perdeu a majestade. De
acordo com o músico, a inspiração para compor o hit foi mais ou menos natural.
Talvez para menos. “Eu fazia aulas de violão desde a infância e era muito
incentivado pela minha mãe. Meu professor já havia detectado que eu tinha
talento e tudo o mais. Um dia, botei na cabeça que tinha que fazer uma canção.
Ficava na frente do espelho fazendo força pra ver se saía alguma coisa e andava
pela rua com um gravadorzinho portátil. Certa vez, me veio a melodia de
Baianidade. Isso era 1990. Depois veio a letra. Fui trabalhando e em 1991,
estava pronta”, afirma.
→ Corajoso, Evandro decidiu
deixar uma fita K-7 demo na sede da Banda Mel – hoje Bandamel, que no, início
dos anos 1990, estava na crista da onda da axé music. E se deu muito bem, como
recorda Robson Morais, vocalista do grupo na ocasião. “Eu me lembro que o
Jailton, que era o diretor da banda na época, me chamou para ouvir a faixa
antes de apresentá-la para os outros componentes. Não precisei nem escutar o
resto da música. Falei: por mim, tá dentro. É linda e é sucesso garantido”, diz
o cantor, que, no ano anterior havia emplacado com os colegas Prefixo de verão,
outro sucesso do axé.
→ Os foliões hoje que fervem
atrás de trios elétricos em todo o país devem muito aos “Eternos Dôdô e Osmar”,
citados em Baianidade nagô. São eles os inventores do trio elétrico do carnaval
baiano. Ambos estudavam música e eletrônica e pesquisavam uma forma de
amplificar o som dos instrumentos de corda. Em 1992, foi criado na Bahia o
Troféu Dodô e Osmar, uma premiação anual conferida aos músicos de maior
repercussão e à música de maior sucesso no Carnaval de Salvador. Evandro
Rodrigues foi um dos vencedores da primeira edição.
→ Evandro Rodrigues, autor de
Baianidade nagô, esclarece para quem não é da terra do vatapá o que querem
dizer alguns versos menos óbvios de sua música. “Muita gente que não conhece o
carnaval de Salvador me pergunta o que tem na Avenida Sete durante o carnaval,
que eu cito na música (“Na Avenida Sete/Na paz, eu sou tiete”), e também na
Barra, onde eu digo que tem “o Farol a brilhar”. Bom, é que na década de 1990 a cidade tinha dois
circuitos carnavalescos: o circuito Osmar, que passa pela Avenida Sete, e o
circuito Dodô, que é o da Barra. É ali que acontece o ‘fervo’, a loucura do
carnaval baiano”, explica o músico.
→ E o é que, afinal, “baianidade
nagô”? “Essa foi uma espécie de referência que eu fiz às raízes africanas do
Carnaval e da Bahia. De certa maneira, também às minhas origens, já que eu sou
negro.”
(Texto do Blog UAI)
Há, na Internet, gravações com os
seguintes cantores e bandas: Netinho, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Saulo
Fernandes, Banda Beijo, Banda Eva, Banda Mel e até com a Banda dos Fuzileiros
Navais, em Edimburg, na Escócia.
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