domingo, 4 de março de 2018

Acertei no milhar



Moreira das Silva por Glen Botoca

Wilson Batista e Geraldo Pereira

→ Um pobretão sonha ter ganhado 500 contos de réis no jogo do bicho, quantia fabulosa em 1940, suficiente para comprar três apartamentos de luxo ou cinco casas de dois pavimentos no bairro carioca de Copacabana. Este é o tema de “Acertei no milhar”, um samba-de-breque feito sob medida para o repertório de Moreira da Silva.

→ Numa letra original e espirituosa, Wilson Batista descreve a alegria do premiado, ressaltando seus planos mirabolantes (“Eu vou comprar um avião azul / para percorrer a América do Sul”), suas expectativas de ascensão social (“Vou comprar um nome, não sei onde / vou ser barão…”), sem esquecer, porém, os compromissos cotidianos (“Me telefone pro Mané do armazém / porque não quero ficar devendo nada a ninguém”). Mas, como alegria de pobre dura pouco, logo o sonhador volta à realidade, acordado pela mulher.

“Acertei no milhar” tem letra e melodia de Wilson Batista, figurando Geraldo Pereira como parceiro – a pedido de Moreira da Silva – para “trabalhar” a música nas rádios. Na ocasião, Geraldo era um compositor iniciante com apenas um samba gravado.

→ O famoso samba de breque “Acertei no milhar” é assinado por uma dupla respeitável: Wilson Batista e Geraldo Pereira.

→ Os autores nem se conheciam. Moreira da Silva foi quem os apresentou e convenceu Wilson, o verdadeiro criador, a incorporar Geraldo como parceiro. Morengueira conta: “Em 1940, em São Paulo, o Wilson me mostrou o samba e eu gostei. Marquei para gravar, mas falei com ele pra botar o Geraldo Pereira na parceria. Ele estava entrando no meio e era bom de “trabalhar” música. Apresentei o Geraldo ao Wilson na volta ao Rio e ficou tudo azul com bolinha cor-de-rosa. O Wilson era de fazer música, mas sair para “buscar o ouro não era com ele”.

(A Canção Contada)

→ Moreira da Silva tinha quase dez anos de carreira e 37 anos de idade. Sabia bem distinguir uma composição fadada ao sucesso de uma com a marca do fracasso. Foi justamente a certeza de sucesso que ele vislumbrou ao receber das mãos do compositor Wilson Batista a letra de Acertei no milhar!

− Etelvina, minha filha!
(O que é Morengueira?)
acertei no milhar,
ganhei 500 contos,
não vou mais trabalhar.
Você dê toda a roupa velha aos pobres,
e a mobília podemos quebrar.
(Breque)
Isto é pra já!
Vamos quebrar! (prec, prec, prec)

− Etelvina,
vai ter outra lua-de-mel,
você vai ser madame,
vai morar num grande hotel.
Eu vou comprar um nome não sei onde,
De Marquês, Morengueira de Visconde.
Um professor de francês, mon amour,
eu vou trocar seu nome pra madame Pompadour.
Até que enfim agora eu sou feliz,
vou passear a Europa toda até Paris.
E nossos filhos? Oh, que inferno!
Eu vou pô-los num colégio interno.
Telefone pro Mané do armazém,
porque não quero ficar devendo nada a ninguém,
e vou comprar um avião azul
para percorrer a América do Sul.

Mas de repente, mas de repente,
Etelvina me chamou está na hora do batente,
mas de repente,
Etelvina me chamou,
foi um sonho, minha gente!

P.S. Que saber mais de Morengueira, leia o livro “Moreira da Silva O último dos malandros”, de Alexandre Augusto, Editora Record. O vídeo da música “Acertei no milhar” está na internet na voz do próprio Moreira da Silva

Antônio Moreira da Silva (Rio de Janeiro, 1º de abril de 1902 − Rio de Janeiro, 6 de junho de 2000) foi um cantor e compositor brasileiro, também conhecido como Kid Morengueira. Foi empregado de fábricas, tecelagens e chofer de praça e de ambulância, tendo trabalhado até a aposentadoria como servidor público. Faleceu aos 98 anos de idade.



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