O intérprete símbolo do samba-canção brasileiro.
Dick Farney era a voz por excelência
do samba-canção e “Ponto final”, o seu paradigma. Nele juntaram-se
equilibradamente os elementos que fazem de uma canção um clássico imorredouro. Letra,
música, arranjo e intérprete se casam tão harmoniosos que cada regravação sua,
mesmo que de maneira diferente, reafirmam-se novos pontos culminantes de sua
carreira.
Nada parece superar a construção de
“Ponto final” no repertório mais conhecido de Dick. Enquanto a letra de Jair
Amorim aborda uma relação amorosa que deve ser liquidada como o desfecho de uma
novela, o formato musical de José Maria de Abreu se compunha de três partes
distintas: o recitativo (“Não me pergunte
a razão/ Não me atormente demais/ Falo por meu coração/ Tudo acabou, nada
mais”), preparando numa modulação inusitada, do primeiro grau em menor para
o terceiro em maior, a condução para breve parte A (“Sinto muito, mulher, mas é tarde/
Esta chama de amor já não arde”), seguida do que poderia ser seu
desenvolvimento, mas é uma parte B disfarçada e concebida por meio de uma
original sequência de modulações ascendentes. É como uma escadinha de três
degraus, um para cada verso (“Faça de
conta que eu/ Sou como alguém que morreu/ Como comédia que passa e se
esgarça no ar”), que termina numa suspensão (“No ar”) pedindo o retorno à parte
A (“Uma história incolor foi aquela/ um
capítulo a mais de novela”). Agora,
porém, aproveitando uma só frase derivada de A que, repetida cinco vezes quase
identicamente, arremata a canção: “Nossa
comédia acabou/ Sem aplauso sequer/ Quando o pano baixou/ Numa cena banal/
Põe-se um ponto final”.
Eis aí uma obra-prima do
samba-canção, com seus elementos fundamentais na letra e na música de quem foi
seguramente um de seus mais ilustres compositores, José Maria de Abreu.
(Do livro “Copacabana
A trajetória do samba-canção”,
de Zuza Homem de Mello)
de Zuza Homem de Mello)
Ponto final*
Jair Amorim e José
Maria de Abreu
(Recitativo)
Não me pergunte a razão,
Não me atormente demais.
Falo por meu coração
Tudo acabou... nada mais.
(Cantado)
Sinto muito, mulher, mas é tarde,
Esta chama de amor, já não arde.
Faça de conta que eu
Sou como alguém que morreu,
Como a fumaça que passa
E se esgarça no ar, no ar...
Uma história incolor foi aquela.
Um capítulo a mais de novela.
Nossa comédia acabou,
Sem aplauso sequer,
Quando o pano baixou.
Numa cena banal,
Põe-se um ponto final.
*A gravação dessa música pode ser encontrada na internet na
voz do próprio Dick Farney.
Os compositores
Jair Amorim
Jair Pedrinha de Carvalho Amorim
foi um importante compositor popular brasileiro da segunda metade do século XX.
Foi também jornalista e locutor de rádio.
Nascimento: 18 de julho de 1915, Santa
Leopoldina, Espírito Santo;
Falecimento:
15 de outubro de 1993, São José dos
Campos, São Paulo.
José Maria de Abreu
José Maria de Abreu foi um violonista, trompetista e
compositor brasileiro.
Nascimento: 7 de fevereiro de 1911;
Falecimento:
11 de maio de 1966.
O cantor
Dick Farney
Farnésio Dutra e Silva, conhecido
pelo nome artístico Dick Farney foi um cantor, pianista e compositor
brasileiro.
Nascimento:
14 de novembro de 1921, Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro; Falecimento: 4 de agosto de 1987, São Paulo,
São Paulo.
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