Jean Racine*
Meu filho, oh ainda assim vos
poderei chamar!
Permita-me a ternura, o modo de
falar,
as lágrimas de angústia, entre
tantos horrores,
que me arrancam, por vós, os mais
justos temores.
Crescestes junto a mim e do trono
afastado.
Assim desconheceis seu clima
envenenado.
Do poder absoluto a suprema
embriaguez
é verdade também que vós
desconheceis.
Ouvireis com frequência os
covardes louvores
da encantadora voz dos vis
aduladores.
Em breve vos dirão que as mais
sagradas leis,
protetoras do povo, estão nas
mãos dos reis;
que tendes, como rei, um só
freio: a vontade,
tudo imolando em prol de vossa
autoridade;
que às penas e ao trabalho o povo
é condenado
e com cetro de ferro há de ser
governado.
Se por vosso desejo oprimido não
for
então não tardará em tornar-se
opressor.
De armadilha a armadilha e de
abismo a outro abismo,
eles vos levarão ao mais feroz
egoísmo.
Destroçando de todo a vossa
ingenuidade,
conseguirão que enfim detesteis a
verdade.
À virtude darão uma imagem
terrível
para que ela se torne odiada e
desprezível.
As astúcias são tais, e por que
não dizer?
Que os mais sábios dos reis se
deixam corromper.
Em presença dos fiéis, da
escritura sagrada,
jurai que a lei de Deus será
sempre aplicada.
Severo para o mal e bom para o
infeliz,
mesmo entre o povo e vós será só
Deus o juiz,
lembrando de que sob o linho que
vos cobre
fostes órfão também e também
fostes pobre.
*Jean Baptiste Racine foi um
poeta trágico, dramaturgo, matemático e historiador francês. É considerado,
juntamente com Pierre Corneille, como um dos maiores dramaturgos clássicos da
França.
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