sexta-feira, 20 de abril de 2018

O Velhinho Meditabundo



Era um pobre de um velhinho,
Que se sentava lá na praça,
Com o seu terno apertadinho,
Todo comido de traça.

Chegava sempre na mesma hora,
Lá pelo final da tardinha,
Sentava-se no mesmo banco,
E ajeitava a gravatinha.

Com o semblante triste e carregado,
No horizonte fixava o olhar,
E com os lábios murchos cerrados,
Se punha, triste, a meditar.

Passada uma hora inteira,
Sem muito ânimo, se levantava,
Ajeitava o paletó puído,
E com passos curtos se mandava.

Fazia isso há muitos anos,
E todo mundo ficava a se perguntar,
No que pensava o bom velhinho,
Quando estava sempre a meditar.

Até que um dia um sujeito,
Vencido pela curiosidade,
Aproximou-se do velhinho,
E perguntou-lhe com humildade:

“Desculpe-me a intromissão,
Mas uma dúvida me apavora,
O que faz o senhor aqui,
Todos dias a mesma hora?”

E, com voz grave e emocionada,
O velhinho deu a resposta pedida:
“É que há quarenta anos neste banco,
Conheci o grande amor da minha vida!”

E, com os olhos lacrimejantes, completou:
“Apaixonei-me no mesmo momento,
E logo depois, neste mesmo banco,
A pedi amada em casamento!”

Enternecido pelas palavras do velhinho,
O sujeito tentou adivinhar:
“Já sei. Ela não aceitou o seu amor,
E com outro foi se casar!”

E o velhinho balançando a cabeça,
“Infelizmente não foi isso!” - e começou a soluçar,
“Foi muito pior... ela disse sim,
E está me esperando em casa para jantar!”

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