sábado, 12 de maio de 2018

Mateando com a Mamãe*

Odilon Ramos


Imagem da internet

Foi hoje, agora há pouco,
Eu fiz um mate assim, tão bem feitinho,
Cevado com tal jeito e tal carinho,
Que me lembrei assim, de relancina,
Do primeiro mate que tomei.
Foi minha mãe que fez.
E era tão doce, doce como ela era e ainda é.
Eu era piá,
Um naquinho de gente,
E, pra ganhar um mate, eu esperava
Até que ele não fosse mais tão forte e nem tão quente.
No beiral da porta da cozinha,
Que era de chão batido,
Varridinha com vassoura de guanxuma,
Eu me sentava e pedia manhoso:
− Mãe, me dá um mate?
E esperava, até que ela achasse
Que já dava pra dar um mate para o seu guri.
Quantas lições de vida eu aprendi
No mate doce que minha mãe fez!
Aprendi obediência.
Aprendi a ter paciência para esperar a minha vez...
− Segura com as duas mãos!
Não derrama! Não te queima!
Não vá me mexer na bomba!
Eram ordens!
Mas tão brandas, dadas com tanta ternura.
Da boca da minha mãe, eu nunca ouvi nome feio.
Nunca uma palavra dura.
Cuê puxa! Quanta saudade!
Minha infância, a mocidade...
E aquele mate inocente,
Que sem ser forte, nem quente,
Era tudo o que eu queria.
Como eu ficava radiante e me sentia importante
Com aquela cuia de mate que minha mãe me estendia.
E foram mates de leite, às vezes, mates de mel,
Com açúcar esfregado com canela,
Que a minha mãe fazia, diferente um do outro cada dia.
Minha mãe agora está velhinha
E espera horas, dias, sentadinha,
Ou suspirando debruçada na janela.
Que esse seu filho, gaudério, desgarrado,
Um dia desses, sente no seu lado
E tire um tempo pra matear com ela.
− Eu vou, sim, mãezinha, te prometo.
Também ando cansado de matear sozinho!
E quando eu bolear a perna no teu rancho,
Deixa que eu ceve um mate para nós, um mate doce!
Que eu vou adoçar pra ti... com meu carinho!

*Ouça a declamação desse poema na internet na voz do próprio autor.


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