J. J. Camargo*
Uma das descobertas mais
gratificantes de ser manter uma coluna semanal no jornal é a cumplicidade de
parte do publico leitor por se identificar com uma determinada linha editorial.
Estabelecido esse vínculo afetivo,
com alguma frequência, recebemos textos que relatam histórias de vida que
envolvem sentimentos comuns. Vejo isso como a confirmação de que as pessoas, na
imensa maioria, são boas, e tendo descoberto o quanto é bom fazer o bem, sentem
uma necessidade compulsória de compartilhar.
Algumas dessas mensagens chegam em
momentos de carência afetiva nossa e sentimos exatamente o que alguns leitores,
agradecidos, escrevem:
“Obrigado por ter
escrito o que eu precisava ouvir, dando-me a impressão, não importa se falsa,
de que você escreveu para mim.”
Foi assim, com esse sentimento, que
li a história enviada por um leitor fiel e assumido, e me comovi porque ela
reforça minha crença antiga de que, como declarou o bilionário John Paul
Dejoria, em recente entrevista à Veja, “fazer
o bem aos outros dá um barato danado”.
Uma jovem, que vou chamar de Vera
Lúcia, trabalha numa elegante loja de roupa feminina, onde entrou uma mulher
alta e obesa. Circulou por ali e, sem perguntar nada, iniciou a busca de um
vestido que lhe servisse. Seguiu revisando estante após estante sem encontrar e
sem desistir. Para Vera Lúcia, foi torturante vê-la no esforço inútil, porque
sabia que não havia nada compatível, ma achou que seria grosseiro interrompê-la
para anunciar a frustração definitiva.
Esperou até o último instante sem
saber o que dizer, quando a senhora, com o olhar resignado, assumiu: “Vocês não têm nada GG, não é mesmo?”
E, então, a Vera Lúcia se socorreu de
uma sensibilidade tanta, que salvou o futuro dela como vendedora, a autoestima
da freguesa, certamente vitima de discriminações constantes, e o meu fim de
semana, quando recebi esta linda história.
Ela abriu os braços e disse: “Como que não? Olha só o tamanho deste
abraço!”
A freguesa só conseguiu parar de
chorar para agradecer: “Há muito tempo
ninguém me abraçava assim!”
Em um mundo marcado pela solidão, um
abraço GG pode ser a melhor terapia.
*J.J. Camargo é cirurgião
torácico e membro titular da Academia Nacional de Medicina
(Do caderno Vida, do
jornal Zero Hora, maio de 2018)
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