Por Leonardo Motta
O coronel Tomás Barbosa precisava
comprar em Canindé um burro novo e possante. Era ao tempo em que automóveis e
caminhões não faziam ainda o transporte de mercadorias, recebendo-as ou
deixando-as à margem da ferrovia, em Itaúna. Indo à povoação de Campos Belos, o
coronel Tomás indagava se poderia adquirir ali um animal nas condições
referidas.
− Eu tenho um, seu coronel − ofereceu
o Miguel Carpina.
− É burro
novo, ou é burro de idade?
− É novo,
novo!
− É forte?
− Forte? Como não conheço outro!
Carga de oito arrouba pra ele é brincadeira de menina feme. E dá-se disso: o
bicho está gordo que está de rego aberto, é uma peça famosa e não tem pisadura
nem nas sarneias, nem no espinhaço. Até pra sela ele serve. Não é passarinheiro
e, quando acaba, passeiro assim mão vejo outro. Burro andador! Quanto mais anda,
mais tem vontade de andar! Não há caminho que chegue...
− E onde está ele?
− No cercado. É perto. O senhor
querendo eu mando buscar. Comprou, comprou; se não comprar, não veio agravo.
− Pois mande buscar.
Meia hora mais tarde, o gabado
solípede era apresentado ao coronel Tomás Barbosa. Efetivamente, era um burro
novo, grande e gordo. Cardão, que é a cor dos animais resistentes. Tinha,
porém, um defeito. Ainda novinho, uma bicheira lhe levara metade do beiço
superior. O coronel Tomás Barbosa viu isso e não quis negócio:
− Ora, Miguel, seu burro é defeituoso;
falta-lhe metade dum beiço... Por que você não me disse isso logo?
− Eu não disse, seu Coronéu, porque
eu tava na mente que Vossa Senhoria queria era um burro pra carregar carga.
Agora é que estou vendo que Vamincê quer é um burro pra assobiar.
(Do “Almanhaque do
Barão de Itararé”, de 1949)
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