domingo, 6 de maio de 2018

O Meu País

Música e letra de Zé Ramalho



Um país que crianças elimina,
E não ouve o clamor dos esquecidos.
Onde nunca os humildes são ouvidos,
E uma elite sem Deus é que domina.
Que permite um estupro em cada esquina,
E a certeza da dúvida infeliz.
Onde quem tem razão passa a servis
E maltratam o negro e a mulher.
Pode ser o país de quem quiser,
Mas não é, com certeza, o meu país!

Um país onde as leis são descartáveis
Por ausência de códigos corretos.
Com noventa milhões de analfabetos,
E multidão maior de miseráveis.
Um país onde os homens confiáveis não têm voz,
Não têm vez,
Nem diretriz,
Mas corruptos têm voz,
Têm vez,
Têm bis,
E o respaldo de um estímulo incomum.
Pode ser o país de qualquer um,
Mas não é, com certeza, o meu país!

Um país que os seus índios discrimina,
E a Ciência e a Arte não respeita.
Um país que ainda morre de maleita
por atraso geral da Medicina.
Um país onde a Escola não ensina,
E o Hospital não dispõe de Raios X.
Onde o povo da vila só é feliz,
Quando tem água de chuva e luz de sol.
Pode ser o país do futebol,
Mas não é, com certeza, o meu país!

Um país que é doente,
Não se cura.
Quer ficar sempre no terceiro mundo,
Que do poço fatal chegou ao fundo
Sem saber emergir da noite escura.
Um país que perdeu a compostura,
Atendendo a políticos sutis,
Que dividem o Brasil em mil brasis
Para melhor assaltar, de ponta a ponta.
Pode ser um país de faz de conta,
Mas não é, com certeza, o meu país!

Um país que perdeu a identidade,
Sepultou o idioma Português,
Aprendeu a falar pornô e Inglês,
Aderindo à global vulgaridade.
Um país que não tem capacidade
De saber o que pensa e o que diz,
E não sabe curar a cicatriz,
Desse povo tão bom que vive mal,
Pode ser o país do carnaval,
Mas não é, com certeza, o meu país!

P.S. Há, na internet, essa música cantada pelo próprio autor, Zé Ramalho. Há, ainda, uma declamação, à gaúcha, só da letra por João de Almeida Neto.

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