domingo, 20 de maio de 2018

Uma mulher fiel



Conta um filósofo que, passando certa vez por um cemitério, viu uma mulher sentada junto a um túmulo e abanando-lhe a terra fresca. A curiosidade é a alma da filosofia. O filósofo aproximou-se e pediu respeitosamente à mulher contar-lhe por que abanava aquele túmulo. A mulher enrubesceu, mas não respondeu. E o filósofo prosseguiu no seu caminho. Mas foi logo alcançado por uma jovem que lhe disse: “Ouvi-o dirigir uma pergunta a minha ama. Posso responder-lhe por ela se me der cinco moedas que pagarei no templo para obter o perdão dos meus pecados.”

O filósofo sorriu e entregou as moedas; e a jovem disse:

“Minha ama era casada com um homem que amava e de quem era amada apaixonadamente. Quando ele adoeceu e estava agonizando, minha ama entrou em violento desespero.

− Prometo-lhe seguir-te ao túmulo, dizia, pois para mim a vida sem ti é pior que a morte.

Mas meu amo disse-lhe: “Minha querida, não prometas tanto.”

− Deixa-me pelo menos prometer que nunca me casarei de novo. Pois quero ter um só marido como tenho uma só alma.

Mas meu amo disse-lhe: “Minha querida, não prometas tanto. Promete-me apenas guardar fielmente minha memória enquanto a terra não secar por cima de meu túmulo.”

Minha ama fez uma promessa solene, e meu amo morreu.

O sepultamento foi atendido por muitos amigos. Um deles, cavalheiro de grande distinção, falou à minha ama um pouco de seu marido e muito de si mesma. E prometeu voltar breve.

Para não quebrar sua promessa, minha ama está abanando a terra do túmulo para que seque antes do cavalheiro voltar.”

(Lenda antiga contada por Anatole France)

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