(Autor Paulo C. F. Souto)
Dia desses, li um livro que comparava a vida a uma viagem de trem. Uma
comparação extremamente interessante, quando bem interpretada. Interessante,
porque nossa vida é como uma viagem de trem, cheia de embarques e desembarques,
de pequenos acidentes pelo caminho, de surpresas agradáveis com alguns
embarques e de tristezas com os desembarques...
Quando nascemos, ao embarcarmos nesse trem, encontramos duas pessoas
que, acreditamos que farão conosco a viagem até o fim: nossos pais. Não é
verdade. Infelizmente, em alguma estação, eles desembarcam, deixando-nos órfãos
de seus carinhos, proteção, amor e afeto.
Mas isso não impede que, durante a viagem, embarquem pessoas
interessantes que virão ser especiais para nós: nossos irmãos, amigos e amores.
Muitas
pessoas tomam esse trem a passeio.
Outras fazem a viagem experimentando somente tristezas. E no trem há, também, outras que passam de vagão em vagão, prontas para ajudar quem precisa. Muitos descem e deixam saudades eternas.
Outros tantos viajam no trem de tal forma que, quando desocupam seus assentos, ninguém sequer percebe. Curioso é considerar que alguns passageiros que nos são tão caros acomodam-se em vagões diferentes do nosso. Isso nos obriga a fazer essa viagem separados deles. Mas isso não nos impede de, com grande dificuldade, atravessarmos nosso vagão e chegarmos até eles. O difícil é aceitarmos que não podemos sentar ao seu lado, pois outra pessoa estará ocupando esse lugar.
Essa viagem é assim: cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas,
embarques e desembarques.
Sabemos que esse trem jamais volta. Façamos essa viagem da melhor maneira possível, tentando manter um bom relacionamento com todos, procurando em cada um o que tem de melhor, lembrando sempre que, em algum momento do trajeto poderão fraquejar, e, provavelmente, precisaremos entender isso.
Nós mesmos fraquejamos algumas vezes. E, certamente, alguém nos entenderá. O grande mistério é que não sabemos em qual parada desceremos. E fico pensando: quando eu descer desse trem sentirei saudades? Sim. Deixar meus filhos viajando sozinhos será muito triste. Separar-me dos amigos que nele fiz, do amor da minha vida, será para mim dolorido. Mas me agarro na esperança de que, em algum momento, estarei na estação principal, e terei a emoção de vê-los chegar com sua bagagem, que não tinham quando embarcaram. E o que me deixará feliz é saber que, de alguma forma, eu colaborei para que essa bagagem tenha crescido e se tornado valiosa.
Agora, nesse momento, o trem diminui sua velocidade para que embarquem e
desembarquem pessoas. Minha expectativa aumenta, à medida que o trem vai
diminuindo sua velocidade... Quem entrará? Quem sairá? Eu gostaria que você
pensasse no desembarque do trem, não só como a representação da morte, mas,
também, como o término de uma história, de algo que duas ou mais pessoas
construíram e que, por um motivo ínfimo, deixaram desmoronar. Fico feliz em perceber
que certas pessoas, como nós, têm a capacidade de reconstruir para recomeçar.
Isso é sinal de garra e de luta, é saber viver, é tirar o melhor de “todos os
passageiros”.
Agradeço muito por você fazer parte da minha viagem, e por mais que
nossos assentos não estejam lado a lado, com certeza, o trem é o mesmo.
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