quinta-feira, 19 de julho de 2018

Epílogo da Revolta da Chibata



João Cândido ficou 18 meses preso na Ilha das Cobras. Os companheiros sobreviventes também amargaram o isolamento. Os presos eram mantidos incomunicáveis. Numa demonstração de humanidade, a Irmandade Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, no Rio de Janeiro, contratou três dos melhores advogados criminalistas do país para defender os marinheiros encarcerados. Evaristo de Morais, Jerônimo de Carvalho e Caio Monteiro de Barros foram os advogados de defesa de João Cândido e de outros líderes da revolta, entre eles Francisco Dias Martins e Gregório do Nascimento.

Segundo Edmar Morel, no livro A Revolta da Chibata, da lista de 70 marinheiros indiciados pelo código penal da Marinha, restavam apenas dez prisioneiros na Ilha das Cobras. Os outros 60 nomes eram dados como desaparecidos, mortos por insolação ou fuzilados no navio Satélite.

João Cândido assumiu toda a responsabilidade pela revolta da esquadra. O processo teve início em junho de 1912 e foi concluído cinco meses mais tarde. Com destreza, os advogados provaram a inocência do marinheiro e de seus companheiros. Em seu discurso, Evaristo de Morais evocou o caráter humano de João Cândido e sua revolta: “não quero suscitar paixões, mas reconheço a generosidade do proceder de João Cândido. O seu ato foi um ato humano, de justiça (...). Estivemos à sua mercê, e ele nos poupou”.

Para cada acusação, foi apresentada uma defesa, desmontando o circo armado por oficiais para incriminar os marinheiros anistiados e ligá-los à segunda revolta, a do Batalhão Naval. João Cândido, por exemplo, era acusado de ter mudado o Minas Gerais de lugar sem ordens. A mudança, realmente, aconteceu, mas foi para tirar o encouraçado da mira de projéteis vindos da Ilha das Cobras, e foi informada, por rádio, às autoridades. Dias Martins era acusado de agredir oficiais no navio. Testemunhas desmentiram a acusação. O tribunal inocentou os marinheiros. A sentença, tardia, era de que não existia nenhuma prova contra os marujos anistiados, eles tinham sido presos injustamente.

(Do Blog João Cândido – Projeto Memória) 

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