terça-feira, 3 de julho de 2018

Rede



É noite alta, perto, a madrugada.
Uma enorme lua beija o oceano,
Um casal passeia de mãos dadas
Para o futuro, ambos fazem planos.

São jovens, se beijam com carinho,
Admiram o luar, cruzam vielas,
Resolvem brincar, estão sozinhos.
Brincar como crianças, olhar janelas...

A primeira casa está toda fechada;
Na segunda casa alguém está chorando;
A terceira parece abandonada,
Mas na quarta estão comemorando.

Continuam a procurar por novidades.
Com cuidado, mirando das janelas,
E uma atrai a curiosidade:
Há um rapaz com rosto cor de vela.

Esquálido, olhos fundos e cansados,
Ele se senta e preme alguns botões.
Algo acontece, o quarto está mais iluminado,
E numa tela surgem alguns borrões.

Ele escreve alguma coisa num teclado.
Depois, aguarda que haja alguma ação.
A tela agora mostra imagens num quadrado,
Ele volta a escrever com atenção.

E fica ali, olhando aquela tela,
E o casal vendo o que não lhe compete.
Pensa em como esta vida é bela.
O amor está nas ruas; não, pela internet.

Dão-se de novo as mãos, já pensativos,
Ficarão mais juntos, na tristeza ou na dor.
Correm para se sentirem felizes e vivos,
Fogem da máquina, fogem para o amor.

(Clarival Vilaça: 29/01/98)

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