Luís Fernando
Veríssimo por Baptistão
1
Tentei dizer quanto te amava,
aquela vez, baixinho
mas havia um grande berreiro, um
enorme burburinho
e, pensando bem, o berçário não
era o melhor lugar.
Você de fraldas, uma graça, e eu
pelado lado a lado,
cada um recém-chegado você sem
saber ouvir,
eu sem saber falar.
2
Tentei de novo, lembro bem, na
escola.
Um PS no bilhete pedindo cola
interceptado pela professora como
um gavião.
Fui parar na sala da diretora e
depois na rua
enquanto você,
compreensivelmente, ficou na sua.
A vida é curta, longa é a paixão.
3
Numa festinha, ah, nossas
festinhas, disse tudo:
“Eu te adoro, te venero, na tua
frente fico mudo”
E você não disse nada. E você não
disse nada.
Só mais tarde, de ressaca,
atinei.
Cheio de amor e cuba, me enganei
e disse tudo para uma almofada.
4
Gravei, em vinte árvores,
quarenta corações.
O teu nome, o meu, flechas e
palpitações:
No mal-me-quer, bem-me-quer,
dizimei jardins.
Resultado: sou persona pouco
grata
corrido a gritos de “Mata! Mata!”
por conservacionistas, ecólogos e
afins.
5
Recorri, em desespero, ao gesto
obsoleto:
“Se não me segurarem faço um
soneto”
E não é que fiz, e até com boas
rimas?
Você não leu, e nem sequer ficou
sabendo.
Continuo inédito e por teu amor
sofrendo
Mas fui premiado num concurso em
Minas.
6
Recorri, em desespero, ao gesto
obsoleto:
“Se não me segurarem faço um
soneto”
E não é que fiz, e até com boas
rimas?
Você não leu, e nem sequer ficou
sabendo.
Continuo inédito e por teu amor
sofrendo
Mas fui premiado num concurso em
Minas.
7
Te escrevi com lágrimas , sangue,
suor e mel
(você devia ver o estado do
papel)
uma carta longa, linda e
passional.
De resposta nem uma cartinha,
nem um cartão, nem uma linha!
Vá se confiar no Correio
Nacional.
8
Com uma serenata, sim, uma
serenata
como nos tempos da Cabocla
Ingrata
me declararia, respeitando a
métrica.
Ardor, tenor, a calçada
enluarada...
havia tudo sob a tua sacada
menos tomada pra guitarra
elétrica.
9
Decidi, então, botar a maior
banca
no céu escrever com fumaça
branca:
“Te amo, assinado...” e meu nome
bem legível.
Já tinha avião, coragem, brevê
tudo para impressionar você
mas veio a crise, faltou o
combustível.
10
Ontem você me emprestou seu
ouvido
e na discoteca, em meio do
alarido,
despejei meu coração.
Falei da devoção há anos entalada
e você disse “Eu não escuto nada”.
Curta é a vida, longa é a paixão.
11
Na velhice, num asilo, lado a
lado
em meio a um silêncio abençoado
direi o que sinto, meu bem.
O meu único medo é que então
empinando a orelha com a mão
você me responda só: “Hein?”
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