O pai não nasce pronto,
nem de um dia para outro.
É preciso tempo, ansiedade, experiência
e grande doses
de paciência.
Tome um jovem, de
preferência um jovem confiante, esperançoso, idealista. Coloque-o, junto com
sua também jovem e confiante e esperançosa e idealista esposa num pequeno
apartamento, que é o lugar habitual para jovens (e confiantes e esperançosos e
idealistas) casais. Adicione salários modestos, dívidas. Bata bem: bater, nesta
receita, é fundamental; não se obtém um pai sem bater muito. Acrescente agora a
paternidade propriamente dita. Acrescente as noites passadas em claro,
acrescente a apreensão em caso de doença e de acidente. Misture, e,
naturalmente, bata bem. Ponha agora a ansiedade em relação ao futuro: o que vai
ser de meu filho, neste confuso mercado de trabalho? Como condimento
adicionais, você pode acrescentar as flutuações do dólar, os ataques
especulativos, as incertezas da política, sempre batendo bem. Leve ao fogo:
este é um prato que exige longo cozimento. Ao cabo de duas horas, experimente.
Talvez o pai tenha ficado azedo ou mesmo amargo. Não tem importância.
Acrescente o grato sorriso de um filho ou de uma filha e, miraculosamente, o
sabor se transformará e você terá aquilo que, antigamente, era chamado de
manjar dos deuses.
(Moacyr Scliar)
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