quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Uma história de pescador



As barrigudas

Estava o caboclo a entregar-se aos preparativos da pescaria. Muniu-se de caniço, anzol e iscas e atirou sua canoa na lagoa.

Ficou ali com aquela esperançosa e aborrecida paciência dos pescadores que aguardam o peixe mordiscar a isca.

Passaram-se uns 30 minutos até que o anzol e a linha sacudiram-se dentro e, dentro alguns segundos, o pescador puxou o peixe de dentro da lagoa.

Era uma piava gorda como ele nunca vira tão gorda, que mal saltou dentro da canoa se dirigiu aos berros para o pescador:

- Não me mate, senhor, estou barriguda. Talvez o senhor não saiba o que é barriguda, pois lhe explico melhor – dizia aos gritos a piava – estou grávida de centenas de piavinhas que estão no meu ventre, vão nascer daqui a um ou dois dias. Não me mate me devolva para a lagoa, quero salvar não a minha vida, mas as dos meus filhotes.

O pescador apiedou-se da piava barriguda, desencravou o anzol da bochecha do peixe e devolveu-o à liberdade da lagoa.

Passaram-se largos minutos e o pecador continuava à esperta de pesca mais bem-sucedida, quando outro peixe mordeu a isca.

O pescador içou-o para a canoa e ouviu do peixe o mesmo apelo daquele primeiro:

- Não me mate. Deixe eu viver, estou barriguda. Na minha barriga estão centenas de filhotinhos quase prontos para nascer. Tenha pena de mim e deles.

O pescador não teve dúvidas e devolveu a piava para as águas da lagoa.

E assim se passaram várias horas, o pescador içou várias piavas para a canoa e todas diziam que estavam barrigudas. Ele as devolvia para a lagoa sem qualquer remorso.

Depois da oitava piava pescada, o pescador pescou a nona. Não era um peixe gordo, era magro, normal.

E o pescador disse ao peixe:

- Não vais me falar que também és barriguda?!

E a piava respondeu:

- Não sou barriguda. Milhares de vidas de peixes dependem de mim aqui neste lugar, o senhor tem a obrigação de me devolver para a água porque eu sou a parteira desta lagoa.



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