As barrigudas
Estava o caboclo a entregar-se aos
preparativos da pescaria. Muniu-se de caniço, anzol e iscas e atirou sua canoa
na lagoa.
Ficou ali com aquela esperançosa e
aborrecida paciência dos pescadores que aguardam o peixe mordiscar a isca.
Passaram-se uns 30 minutos até que o
anzol e a linha sacudiram-se dentro e, dentro alguns segundos, o pescador puxou
o peixe de dentro da lagoa.
Era uma piava gorda como ele nunca
vira tão gorda, que mal saltou dentro da canoa se dirigiu aos berros para o
pescador:
- Não me mate, senhor,
estou barriguda. Talvez o senhor não saiba o que é barriguda, pois lhe explico
melhor – dizia aos gritos a piava – estou grávida de centenas de piavinhas que
estão no meu ventre, vão nascer daqui a um ou dois dias. Não me mate me devolva
para a lagoa, quero salvar não a minha vida, mas as dos meus filhotes.
O pescador apiedou-se da piava
barriguda, desencravou o anzol da bochecha do peixe e devolveu-o à liberdade da
lagoa.
Passaram-se largos minutos e o
pecador continuava à esperta de pesca mais bem-sucedida, quando outro peixe
mordeu a isca.
O pescador içou-o para a canoa e
ouviu do peixe o mesmo apelo daquele primeiro:
- Não me mate. Deixe eu
viver, estou barriguda. Na minha barriga estão centenas de filhotinhos quase
prontos para nascer. Tenha pena de mim e deles.
O pescador não teve dúvidas e
devolveu a piava para as águas da lagoa.
E assim se passaram várias horas, o
pescador içou várias piavas para a canoa e todas diziam que estavam barrigudas.
Ele as devolvia para a lagoa sem qualquer remorso.
Depois da oitava piava pescada, o
pescador pescou a nona. Não era um peixe gordo, era magro, normal.
E o pescador disse ao peixe:
- Não vais me falar que
também és barriguda?!
E a piava respondeu:
- Não sou barriguda.
Milhares de vidas de peixes dependem de mim aqui neste lugar, o senhor tem a
obrigação de me devolver para a água porque eu sou a parteira desta lagoa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário