sábado, 1 de setembro de 2018

O homem símbolo do Rio Grande do Sul



O Tropeiro da Cultura
          
Na tarde da última segunda-feira, 27 de agosto (2018), Paixão Côrtes alçou a perna no seu baio cabos negros (o mesmo que em setembro de 1947 havia montado para carregar a Chama Crioula que ele próprio havia criado) e, bem pilchado, foi camperear no pago celestial. No dia 12 de julho havia completado 91 anos, quase todos eles dedicados à cultura do Rio Grande do Sul, seus usos e costumes, ao folclore, ao resgate de danças, ritmos e folguedos. Mais que uma estrela, João Carlos D′Ávila Paixão Côrtes foi uma constelação. Não foi o único, por óbvio, mas aquele que mais empenho empreendeu nesse trabalho, pois com o passar dos anos, desde aquele longínquo 47, quando junto com seus amigos de Julinho alinhavou as bases para o tradicionalismo, foi se transformando na figura que mais se identificou com o gauchismo brasileiro. Mais que uma estátua, o homem virou símbolo e fica tatuado para sempre no imaginário do nosso povo.

(Parte do texto de Paulo Mendes, em Campereada, Correio do Povo)


Paixão Côrtes diante da estátua para qual foi o modelo do escultor Antonio Caringi.


Caringi entrega a Paixão uma pequena réplica da estátua.

Paixão Côrtes

O Paixão finge que morre.
É sua a perpetuidade.
O tempo respeita um homem
de tão densa intensidade.

Somos sempre o que fomos
foi o seu ensinamento.
O Paixão revela às gentes
o essencial pertencimento.

Não elegia o passado
qual foi paraíso perdido.
Ele inseria a memória
em nosso tempo vivido.

Há um Laçador anfitrião
que a nós todos proclama
a louvar, por todo o sempre,
sua dimensão humana.

A dupla Paixão e Lessa*
retire-se logo o chapéu.
Devem estar pesquisando
a dança dos anjos no céu.

Que ser gracioso, fraterno,
Ó! Quão simples ele era!
Em seu coração vivia
uma eterna primavera.

Fartos bigodes e pilchas
na mais alta correção.
O Rio Grande enxuga as lágrimas
nos lenços da tradição.

Luiz Coronel


*Barbosa Lessa e Paixão Côrtes fazendo transcrição do som de fita para os apontamentos num caderno. Seria mais um documento folclórico que entraria para a história da cultura do Rio Grande do Sul.

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